Categorias
Artigos Destaques Leituras selecionadas

A grande universidade, o foco na excelência e os rankings internacionais

Em artigo publicado no Jornal da USP, Hamilton Varela, professor titular do Instituto de Química de São Carlos da USP, e José Eduardo Krieger discutem a participação da USP em rankings internacionais.

Por Hamilton Varela, professor titular do Instituto de Química de São Carlos da USP, e José Eduardo Krieger, professor titular da Faculdade de Medicina da USP.

Republicação. Leia o artigo no jornal da USP

A Universidade de São Paulo é uma universidade de pesquisa que tem buscado incessantemente se reinventar em busca da excelência. Não somos os únicos neste universo e os rankings reúnem diferentes indicadores para, de alguma maneira, comparar esforços e principalmente resultados de instituições espalhadas pelo globo. A edição de 2021 do ranking universitário da Times Higher Education (THE) é alvissareira para a USP. Os resultados do THE World University Rankings foram divulgados no dia 2 de setembro e mostram a USP na faixa das 201-250 melhores instituições de um total de 1.527, e é a universidade brasileira mais bem classificada. O THE é um ranking internacional respeitável e em avaliações recentes (2017 a 2020) a USP apareceu no grupo 251-300. A evolução recente da USP é consistente com outras classificações. Na edição de 2021 do QS World Ranking, a USP atingiu a sua melhor posição desde 2018 e é hoje a 115ª melhor universidade do mundo.

Uma análise mais detalhada do ranking THE aponta que a USP é a 29ª maior universidade do mundo em número de alunos e que está bem à frente das outras 28 maiores na classificação geral. Em outras palavras, todas as universidades à frente da USP na edição de 2021 do ranking THE atendem a um número consideravelmente menor de alunos que a USP, que conta com cerca de 84.000 estudantes. Em 2020, a USP recebeu cerca de 11.000 alunos em 182 cursos de graduação, distribuídos em seus oito campi espalhados pelo Estado. São números vultosos, incomuns entre as universidades de pesquisa, e indicam claramente que a Universidade consegue unir quantidade e qualidade, servindo amplamente à sociedade sem comprometer a excelência em suas atividades-fim. O binômio tamanho e desempenho encontra talvez seu ápice na Universidade de Toronto, com cerca de 74.000 alunos e o 18º posto no ranking THE.

Em um cenário de acirrada competição internacional com instituições de maior tradição, mais recursos, mais focadas e menores, há muito a melhorar, e a USP vem trabalhando nesse sentido. Os projetos acadêmicos instituídos recentemente induziram uma reflexão sem precedentes sobre a missão, visão e valores da Universidade sob a ótica do docente e que no futuro construirá uma visão mais coletiva dos departamentos, das unidades e da própria Universidade. Com a sua implementação foram ainda introduzidos processos de avaliação em diferentes níveis, com a definição clara de metas a serem cumpridas em ciclos avaliativos de cinco anos. A perenização deste processo é fundamental para consolidar o ethos da instituição, dirigir o esforço dos gestores em compatibilizar as expectativas individuais e o nosso papel na sociedade. A interface com a sociedade e a organização interna da pesquisa também estão sendo consideravelmente melhoradas com as novas ferramentas de tecnologia da informação que permitem disponibilizar, quase que em tempo real, os esforços e os resultados dos docentes na pesquisa, no ensino e na extensão.

A atual crise sanitária demonstrou a importância de a Universidade ter estoques de conhecimento e capacidade analítica para se debruçar sobre grandes quantidades de dados que orientam e subsidiam as políticas públicas. Finalmente, a despeito da crise de financiamento recente e do questionamento sobre a importância da autonomia universitária, há excelentes perspectivas para a internacionalização. O Programa Institucional de Internacionalização (PrInt) da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) consolida os recursos (quase R$ 144 milhões para o período 2019-2023) que antes encontravam-se pulverizados, permitindo seu uso racional e em ações estratégicas. A internacionalização em duas vias, com a vinda de estrangeiros, ainda difícil, e a, mais comum, ida de professores, pesquisadores e alunos da USP para o exterior, é de fato um ponto a ser melhorado. Segundo o próprio ranking THE, a USP tem 4% de alunos estrangeiros; um nível de internacionalização consideravelmente mais baixo que o das cinco primeiras colocadas, cujos números variam entre 23% e 41%.

Os rankings universitários utilizam diferentes métricas e refletem distintos aspectos das instituições. Eles destacam aspectos importantes para reflexão e mudanças de curso, mas não direcionam o caminho das universidades. Em particular, os indicadores de desempenho no ranking THE estão agrupados em cinco áreas com pesos específicos: ensino (30%), pesquisa (30%), citações (30%), internacionalização (7,5%), e receitas oriundas da transferência de conhecimento (2,5%). Todos esses quesitos se encontram contemplados nos fins da USP, descritos no seu Estatuto. Além de celebrar a ascensão nessas classificações, cabe à USP assumir a sua vocação como universidade de pesquisa e atuar com foco nas atividades-fim, privilegiando a excelência.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *