São Paulo, 10 de setembro de 2025 – O encontro, sediado na USP, serviu de palco para a defesa da chamada “Quarta Missão”: transformar o conhecimento acadêmico em propostas concretas e viáveis para o Estado.
O Novo Paradigma: Da Pesquisa ao Impacto Social
O debate foi aberto com a reafirmação da importância da autonomia universitária como base da excelência. O Professor Vahan, – Professor Emérito da USP e Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do estado de São Paulo – articulou a redefinição da missão social da academia.
Segundo ele, a Terceira Missão “não é a tarefa de extensão”, mas sim uma “parceria de atividades que vão modificar a sociedade“. Expandindo essa visão, o professor propôs a Quarta Missão, inspirada pela resiliência mostrada durante a pandemia. “As universidades mostraram que são ferramentas de resiliência da sociedade“, argumentou. A proposta é ousada: “Por que as nossas pesquisas, além das teses, além dos artigos, além das patentes, não pode ter uma proposta de política pública resultado do nosso trabalho?”.
O Reitor da USP, Professor Carlos Gilberto Carlotti Jr., endossou a visão, colocando o engajamento social como foco central. “O vínculo com a sociedade seria o foco da nossa gestão“. O Reitor destacou que a universidade precisa formar profissionais para o futuro incerto: “Nós temos que formar uma pessoa que, além do conhecimento de sala de aula, ele obtenha também conhecimento, capacidade de obter conhecimento no seu período depois de formado para se adaptar, para entender e poder atender as necessidades que ele vai ter”. Na pesquisa, o desafio é abandonar a métrica vazia: “Todo mundo está procurando esse impacto e não só numerologia“.
Superando a “Empáfia” e Ouvindo o Território
Os representantes das coirmãs estaduais e federais trouxeram a perspectiva da atuação regional e da mudança cultural interna:
- UNICAMP O representante da Unicamp, Professor Fernando Coelho, focou na necessidade de a universidade reconhecer seu papel sem arrogância. “Como é que a gente, na verdade, consegue meio que se… abandonar um pouquinho a nossa empáfia e realmente entender que, como universidade, a gente tem uma responsabilidade social“. Ele citou um estudo que mostra que as pesquisas desenvolvidas já têm impacto em nível governamental: “Muito daquilo que a gente está fazendo no dia a dia, nas nossas pesquisas, são aproveitados por pessoas de diferentes lugares, diferentes países, para incorporar aquilo como base na proposição de uma política pública“.
- UNESP A reitora da UNESP, Maysa Furlan, tratou de caracterizar a atuação da instituição com campi espalhados por 24 cidades, destacou sua forte relação de proximidade. “Nós temos uma relação com os municípios que nós habitamos, que é uma relação incrível“. A universidade utiliza os grandes objetivos globais como bússola, percebendo que “os ODS seriam muito importantes para que a gente pudesse avançar nessa relação aí com a terceira missão e com a quarta missão, que é estabelecer políticas públicas com essas regiões”.
- UFSCar A Reitora da UFSCar, Ana Beatriz de Oliveira, destacou que a extensão precisa ser um “relação dialógica”, e não uma mera prestação de serviços. Essa troca constante com o entorno rural e urbano, segundo ela, é vital para o ensino: é preciso “levar os nossos estudantes para esses ambientes e trazer boas perguntas para a sala de aula“.
- UNIFESP A Reitora da UNIFESP, Raiane Assumpção levantou a questão da falta de entendimento da sociedade sobre o papel da academia. “O que eu fico pensando é que há uma desconexão. A sociedade não entende ainda o que nós fazemos na universidade pública”. A missão primordial, segundo ela, é desenvolver a capacidade crítica: “Nós precisamos de pessoas que saibam pensar“.
- UFABC O Reitor da UFABC, Dácio Matheus, cuja instituição nasceu como “uma resposta a uma demanda social da região do Grande ABC“, enfatizou o diálogo contínuo. “Essa conversa, estar presente na comunidade local e na comunidade regional, é um diálogo diário com os agentes sociais, quer seja dos poderes públicos, do legislativo, dos movimentos sociais”. Ele concluiu que “a quarta missão colocada pelo Vahan, que é inspirar políticas públicas, acho que é fundamental”.
Próximo Passo: A Potência da Ação Conjunta
A provocação final do evento, aceita pelo Reitor Carlotti (USP), coloca a união interinstitucional como o futuro da influência acadêmica.
“Se formarmos seis universidades nessa iniciativa, nossa capacidade de responder perguntas será muito mais potente“, concluiu Carlotti, sinalizando que a colaboração entre USP, Unicamp, UNESP, Unifesp, UFSCar e UFABC pode transformar o conjunto das instituições em uma fonte unificada e estratégica de soluções para o governo de São Paulo e o Brasil.
