Categorias
Cursos

Respostas em destaque. Módulo 2

Educação Superior Pública Brasileira: Desafios e Perspectivas

O segundo módulo do curso, traz uma reflexão sobre a função da universidade, e de formas de medir a performance institucional. Seguem as respostas en destaque da primeira turma do curso

Questões

  • Qual, na sua opinião, é a função de uma Universidade?
  • Descreva como monitorar o impacto social da sua Universidade e construir o consenso em torno deste monitoramento.

Respostas em destaque, por autor


Adriana Backx Noronha Viana

Função de uma universidade é desenvolver processos e sistemas que permitam obter excelência do ensino, pesquisa científica e extensão universitária, incluindo o contexto da cultura, permitindo o desenvolvimento da sociedade. Observe que além de ter ensino, pesquisa científica e extensão universitária de excelência, deve desenvolver processos e sistemas que permitam obter esse resultado. Isso porque irá permitir que a universidade seja exemplo tanto na criação quanto na utilização dos avanços tecnológicos e de inovação. Observe que o foco não é só no resultado, mas no percurso realizado. Por exemplo, o que adiantaria se tivesse resultados excelentes na pesquisa, mas a custo alto em relação a saúde física, emocional e mental dos participantes?

Assim, o monitoramento do impacto social deveria considerar a análise de um indicador que vamos denominar como IDIES – Índice de Desenvolvimento da Instituição e Ensino Superior. A construção desse índice estaria baseada na Teoria da Informação:

Entrada – consiste em avaliação dos contextos que a universidade está inserida (tempo de existência, recursos obtidos, contexto em que está inserida, propósito etc.), obtida através de diagnóstico realizado.

Processamento – processos e sistemas utilizados – de que forma são realizados os processos (de ensino, pesquisa, cultura e extensão, administrativo) e se são utilizados sistemas que permitam maior eficácia e/ou eficiência. A qualidade não deve ser medida só em relação ao resultado obtido, mas aos procedimentos que permitam garantir a sustentabilidade da universidade – contexto econômico, social e ambiental, considerando a saúde física, mental e emocional de seus colaboradores (docentes, funcionários e estudantes)

Saída – Esse índice está associado com a transformação realizada, considerando recursos gerados, pesquisas desenvolvidas, egressos (graduação, pós-graduação e cursos de extensão), avanço no conhecimento, desempenho internacional, impacto regional, inserção das minorias ou ainda analisado conforme as dimensões propostas por Planeta et al (2019).  

Assim, a avaliação final seria constituída de três grupos de indicadores, permitindo realizar diagnóstico (entrada), acompanhamento (processamento) e avaliação (saída).

Um índice desenvolvido dessa forma permitiria o monitoramento constante, analisando de onde se está partindo, de que forma ocorre o desenvolvimento e que resultados ou impactos são obtidos. Poderia ter um indicador (IDIES) para a universidade como um todo, mas seria possível construir para cada unidade de ensino em particular e inclusive para cada docente. Observe que dessa forma a equidade se faz presente, pois a avaliação se torna relativa, quando considera os recursos de entrada, as formas disponíveis para processamento em relação aos resultados obtidos.

César Augusto Rodrigues de Albuquerque

Quando ingressei como graduando na USP, minha resposta a essa questão pouco avançaria para além da Universidade enquanto um espaço para formação acadêmica e profissional, voltada para o ensino e a qualificação. Após anos frequentando-a como discente e servidor, consigo ver na prática como as quatro diferentes concepções universitárias mencionadas pelo Prof. Marcovitch – liberal, utilitária, pesquisa e social – coexistem, mesmo que as vezes tal interação se dê pelo confronto. Na realidade, entendo que essas vertentes se complementam, uma vez que por caminhos e trajetos distintos, buscam atingir um mesmo ideal: os interesses da sociedade. A universidade é, por definição, o espaço da universalidade, da pluralidade e do debate. Desde sua origem, ela vem buscando respostas para as questões e desafios enfrentados pela humanidade, sendo o berço da ciência e promovendo as bases para o desenvolvimento social em todas as suas esferas. Tais interesses não se restringem apenas a demandas instrumentais da sociedade, mas contemplam a integralidade dos anseios e reflexões da mente humana. O ensino, a pesquisa e a extensão surgem, portanto, como instrumentos pelos quais a Universidade responde a tais interesses, sejam eles a formação de quadros, a pesquisa na fronteira da ciência, a preservação e construção do saber ou as demandas sociais e de justiça.

No que tange ao monitoramento do impacto social, o artigo elaborado pelo grupo de trabalho dedicado ao tema avança substancialmente ao propor 6 dimensões de aferição (econômica; socio-educacional; inovação; intelectual; administração pública e reputação). Essa discussão precisa avançar na USP, procurando encontrar indicadores que consigam captar a contribuição mais subjetiva da instituição para a sociedade, contabilizar e demonstrar claramente o impacto das suas atividades de ensino, pesquisa e extensão no dia a dia das pessoas, como elas tem ajudado a comunidade local, nacional ou mesmo global. Para tanto, é fundamental aprimorar a comunicação institucional, mostrar melhor o que fazemos, respaldando junto ao público atingido se ele de fato se sente impactados pela universidade – inclusive por meio de pesquisas e surveys. Não basta que a USP saiba do seu impacto, mas é fundamental que os impactados percebam que a origem desses benefícios provém da universidade. O consenso deve surgir do debate, do entendimento de que a universidade enquanto espaço plural e aberto, deve contemplar uma multiplicidade de indicadores que deem conta da diversidade e da natureza da instituição. O diálogo, a uniformização de indicadores e comparabilidade interuniversitária também pode contribuir muito nessa empreitada.

Claudia Maria Fuller

Existem universidades com diferentes perfis e vocações, e por isso é desafiadora a tarefa de dizer qual a função de uma Universidade (de forma genérica). Mesmo sabendo que essa conceituação não se aplica necessariamente a todas as Universidades, em minha opinião, a função de uma universidade hoje é a de ampliar as fronteiras do conhecimento, expandir seu alcance e difusão e, com isso, contribuir para o desenvolvimento da sociedade nos mais diversos aspectos.

Isso pode se dar por meio da formação de profissionais e cidadãos, pelo avanço da ciência, pela promoção da inovação, pelo engajamento na solução de problemas locais, nacionais ou internacionais, pela promoção do bem estar e saúde da população, etc. Não há um caminho único.

O monitoramento do impacto social das Universidades é uma iniciativa desejada e necessária.

O artigo de Planeta, C. et al. (1) sugere um conjunto bastante abrangente de métricas para mensurar os impactos sociais de uma universidade, agrupados em diferentes dimensões: econômico/financeira; sócio-educacional; inovação e empreendedorismo; intelectual/cultural/bem estar; administração pública; e reputação. Todos os indicadores sugeridos para as diferentes dimensões são relevantes e aplicáveis à USP, e podem servir como referência para se aprimorar e consolidar o uso deste tipo de métrica pela universidade. Como destacam os autores, este trabalho pode começar com a eleição de um número limitado de indicadores, que sejam bastante significativos e mostrem como o financiamento público da Universidade reverte em benefícios palpáveis para a sociedade. A partir da análise inicial de um número restrito de indicadores relevantes, outros podem ser agregados com o passar do tempo e com o amadurecimento institucional para lidar e valorizar métricas que ultrapassam o impacto científico (publicações, citações, patentes geradas, etc.). Idealmente este amadurecimento pode estar associado a um repensar da relação entre universidade e sociedade que envolva a comunidade acadêmica e representantes da sociedade para se chegar a um consenso sobre os indicadores relevantes para se medir o impacto social da universidade. Essas métricas e indicadores, em minha opinião, devem ser definidos dentro de uma perspectiva de indissociabilidade entre pesquisa, ensino e extensão, buscando um equilíbrio entre o viés acadêmico (presente nos rankings internacionais) com atividades que beneficiam de alguma maneira a sociedade (em diferentes dimensões e graus).

(1)PLANETA, C. et al. Impacto Social das Universidades. In: Repensar a Universidade II: Resultados e Impactos. São Paulo: Com-Arte; Fapesp, 2019, pp.195-218.

Hamilton Varela

Qual, na sua opinião, é a função de uma Universidade?

Atuar com excelência nas atividades de ensino superior, pesquisa e extensão, gerando e transmitindo conhecimento, educando e servindo a sociedade. Em particular, a atuação indissociável entre as atividades de ensino, pesquisa e extensão, é função das chamadas atividades de pesquisa. Nessas universidades, as atividades de ensino e extensão são intimamente relacionadas às de pesquisa, científica ou tecnológica, fundamental ou aplicada. 

Descreva como monitorar o impacto social da sua universidade e construir o consenso em torno deste monitoramento.

Dadas a complexidade e a diversidade do impacto social em uma universidade de pesquisa do tamanho da Universidade de São Paulo, o monitoramento deve envolver uma integração entre diferentes setores da universidade. Na USP, o Escritório de Gestão de Indicadores de Desempenho Acadêmico (EGIDA), criado em 2018, tem como objetivo aprimorar o monitoramento de indicadores de desempenho acadêmico para subsidiar a gestão universitária e propiciar uma “análise temporal das atividades desenvolvidas e sua comparação com a de outras instituições de ensino superior do país e do exterior”. Como as métricas privilegiadas pelos principais rankings em voga atribuem maior peso (mais de 80% em média) aos itens relacionados à pesquisa, reputação/visibilidade e ensino, o amplo acompanhamento dos possíveis impactos sociais não é uma tarefa simples. Em particular, o monitoramento de indicadores de impacto social deve contemplar as dimensões econômica/financeira; sócio educacional; de inovação e empreendedorismo; intelectual, cultural e bem-estar; da administração pública; entre outros; em níveis local (municipal), regional, estadual, nacional e internacional. O monitoramento deve ser conduzido com vistas à construção de séries temporais que contribuam tanto à avaliação contínua da universidade, quanto aos processos de tomada de decisão em diferentes âmbitos. Portanto, particularmente no caso da USP, o amplo monitoramento do impacto social deve contar com a atuação integrada do EGIDA com as quatro pró-reitorias (Pós-graduação, Graduação, Pesquisa e Cultura e Extensão Universitária), Coordenadoria de Administração Geral (CODAGE), Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (AUCANI), Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica (AGUIA) e Superintendência de Tecnologia da Informação (STI). O monitoramento das redes sociais e a utilização de ferramentas de inteligência artificial são certamente essenciais.

A construção do consenso em torno da importância do monitoramento do impacto social deve se dar pelo convencimento da necessidade de diálogo com a sociedade para entender as suas demandas e justificar aos pagadores de impostos que nos financiam os recursos investidos.

Ignez Caracelli

Qual, na sua opinião, é a função de uma Universidade?

A função de uma universidade deveria ser a busca do conhecimento. Isto significaria cultivar, ensinar e exercitar o pensamento. Essa função seria algo quase abstrato (ideal) e tem se mostrado difícil de ser mantida ou alcançada. Poderíamos perguntar o porquê.  A universidade (e o “pensador”) existe dentro de uma sociedade. Dentro da sociedade o homem pode ter visões ou paixões ou entusiasmo por aspectos políticos, religiosos, desenvolvimentistas, que fazem com que o pensador não fique imune às estas visões características.  Estas questões (pertinentes ou não), demandam da universidade uma ação, agregando uma visão prática, aplicada e dirigida para dar respostas à sociedade. Esta ação tem sido incentivada por órgãos de fomento, ao dirigirem, por meio de editais em áreas ou problemas que a sociedade ou uma comissão julguem importantes para o momento em que a história está se desenvolvendo. Até mesmo os sistemas de avaliação dirigem a universidade e o pesquisador para um caminho definido e pré-determinado. Hoje então, a função da universidade é em parte ideal (busca do conhecimento) e em parte aplicada (responder aos anseios da sociedade, do governo e dos órgãos de fomento). Responder às questões, em certa parte, também reduz a autonomia, porque há um padrão imposto para todas as nossas universidades e este padrão, normas e regimentos, estão amarrando cada ver mais o que deveria ser livre, o pensamento.  Se a função da universidade estivesse apenas voltada para o seu ideal, como resultados buscaríamos a excelência no mundo acadêmico, com egressos voltados para a continuação desta jornada; por outro lado com a visão prática e aplicada, o sucesso estaria em desenvolver o espirito científico-tecnológico e o empreendedorismo, com egressos

Descreva como monitorar o impacto social da sua universidade e construir o consenso em torno deste monitoramento.

O impacto social poderia ser medido no mundo acadêmico, como ocorre na maior parte dos rankings que avaliam o número de publicações, as revistas em que foram publicadas, número de citações, quem fez as citações. Outros detalhes podem ser acrescentados, como o número de docentes e/ou discentes com sucesso, com projetos financiados. Hoje em dia, temos que nos preocupar em como mostrar à sociedade que a universidade, a pesquisa, docentes e discentes, resultam em algo positivo. Por exemplo, quantas empresas foram abertas, em decorrência de um egresso ter sido formado na Universidade, ou no benefício trazido por uma dada pesquisa. Os resultados a médio prazo, seriam o impacto financeiro trazido. Uma das questões, é que se medimos o impacto desta forma, poderíamos reduzir drasticamente, a busca do conhecimento, uma vez que de forma imediata, não leva a reconhecimento financeiro.   Além de empresas criadas por egressos, também seria importante que as Empresas percebessem a necessidade de unir esforços junto às universidades, criando áreas de P&D, onde seja possível a atuação dos egressos. A descrição anterior parece remeter apenas aos formados em áreas cientifico-tecnológicas, mas em uma visão compartimentada. Há ainda uma grande resistência em reconhecer que uma parte cada vez mais significante dos sistemas a serem estudados é interdisciplinar e multidisciplinar. Por exemplo, questões do meio ambiente não podem estar restritas apenas à biólogos, pois vários problemas estão aí relacionados em que pesquisadores de diversas áreas podem e devem atuar: problemas de poluição, podem atuar biólogos, químicos e outros. As pessoas que atuam nas áreas de humanas, também devem participar, desde a gestão, ensino até na comunicação de eventos e ações à sociedade. Na minha Universidade, a UFSCar, entre os parâmetros que poderiam ser considerados estão principalmente a formação de graduandos na área de saúde que geram atendimentos diretos à toda a comunidade de São Carlos e microrregião (abrangendo Ibaté, Descalvado, Dourado, Porto Ferreira e Ribeirão Bonito), no Hospital Universitário – HU, na Unidade Saúde-Escola (USE), o Serviço-Escola com atendimentos em Fisioterapia, Gerontologia, Medicina (ambulatórios especializados em diversas áreas e interdisciplinares), Psicologia, Terapia Ocupacional, Farmácia e Enfermagem, além do Serviço Social. A USE, portanto atua em ensino, pesquisa e fortemente em extensão. o que causa impacto imediato e percepção da sociedade de que está recebendo algo da UFSCar. Os formados em Ciências Básicas, licenciados para formação do ensino médio e fundamental.

João Paulo Gois

Antes de respondermos especificamente as duas questões, é pertinente destacar como elas são contemporâneas, necessárias e que, em dois períodos recentes da nossa história, além do presente, mostram soluções e respostas sutilmente distintas.

Estes momentos são:

  • -/2018: as universidades brasileiras se comunicavam principalmente com os órgãos de fomento e com alguns setores produtivos, sempre com o intuito de buscar mais fomentos;
  • – 2019/Fevereiro-2020: inicia-se uma corrida nas IES públicas para mostrarem pela mídia e para a sociedade em geral, que as IES públicas são patrimônios da sociedade, produzem conhecimento, ciência, e como as ciências (aplicada e básica) são necessárias, tudo isso frente ao massivo ataque que vinham sofrendo.
  • – Março-Abril/2020: a pandemia coloca as IES públicas como a principal, senão a única fonte de esperança para combater, produzir vacinas e tratamentos em larga escala no Brasil.

Feito esta contextualização, podemos responder as perguntas, no contexto presente, da seguinte forma:

  1. Em plena consonância com o Prof. Marcovitch, a universidade deve ser a curadora do conhecimento, um lugar de referência onde a sociedade pode confiar. Porém, a atual pandemia me permite atualizar, complementar as palavras bem colocadas do Prof. Marcovitch: a Universidade, multidisciplinar, não é apenas curadora ou referência, mas a guia, neste momento, propondo não apenas soluções no campo da saúde, mas também soluções em outras áreas, por ex: ciências sociais (como a sociedade deve agir, interagir em meio ao confinamento), educacional e de ensino (ferramentas de ensino a distância, TICs, EADs, produção de material didático), econômicos (discussões sobre renda universal, trade-offs econômicos e seus impactos nos setores públicos e privados), dentre outras.
  2. O monitoramento do impacto social da universidade não deve ser medido com a expertise das métricas clássicas de produção acadêmica. O impacto social deve ser medido com as ferramentas mais modernas de Data Science. Neste sentido, se faz necessário um Observatório do Impacto Social, regido por uma equipe interdisciplinar de ciência de dados, com experiência em Mineração de Dados, Inteligência Artificial, Estatística, além de Cientistas e Psicólogos Sociais. Este tipo de abordagem tem sido adotada por empresas multinacionais e é a forma mais natural das universidades não apenas medir seu impacto junto à sociedade mas também, e não menos importante, indicar como a universidade pode aumentar seu impacto junto à sociedade. O consenso neste caso, em meu entendimento, surge naturalmente, uma vez que as “métricas sociais” são construídas de modo a serem interpretadas não apenas por acadêmicos.

Karina Maretti Strangueto

Quando essa questão é proposta, a resposta que me vem à mente é a fala do professor Goldemberg (2018) “(…) a função das universidades pode não ser a mesma em todos os países.(…)”. No Brasil, e mais especificamente na minha região, vejo que uma Universidade tem como função universalizar o acesso ao conhecimento científico produzido ao longo do tempo, melhorando a qualidade de vida da sua comunidade. Para isso, a Universidade se vale da tríade ensino, pesquisa e extensão, abraçando tanto a comunidade interna quanto externa nesse movimento de universalização.

A instituição onde atuo abrange várias cidades do estado de São Paulo. São 36 campi em atividade e 1 campus em implantação, trabalhando com diferentes níveis de ensino (desde ensino médio integrado ao técnico até pós-graduação). Com isso, há muita diversidade regional e cultural entre os campi.

Monitorar o impacto social da minha instituição se torna um desafio. Acredito que poderíamos monitorar: número de alunos que temos em cada nível de ensino; quantas famílias estão representadas por eles; número de pessoas da comunidade que acessam o campus; número de escolas e empresas onde nossos alunos estagiam; quantos alunos recebem bolsas assistenciais; quantos alunos recebem bolsas de ensino, pesquisa e extensão, e; a taxa de contratação logo que formado. Acredito que esses indicadores mostrariam muito mais do impacto social da minha instituição do que o número de trabalhos publicados e seu impacto, que apenas evidenciam as experiências acadêmicas dos docentes da instituição.

Acredito que esses itens sejam importantes para monitorar o impacto social já que trazem informações sobre a comunidade que atendemos e como ela está sendo afetada com a nossa atuação. Ao trazer educação de qualidade aos nossos estudantes, eles se tornam replicadores em suas famílias e comunidades, nas escolas e empresas onde estagiam, assim como internamente (caso receba bolsa de ensino) ampliando o impacto social da instituição. Com relação aos estudantes bolsistas, acredito que existe um impacto social causado pelo valor da bolsa que recebem, que auxilia na sobrevivência do aluno e da sua família. Quando o aluno atua como bolsista de pesquisa e extensão, também há um impacto na forma como esse aluno vê seu papel na comunidade já que, muitas vezes, a própria comunidade vai ser seu objeto de atuação e estudo.

GOLDEMBERG, J. Ciência, Desenvolvimento e Universidade. In: Repensar a universidade: desempenho acadêmico e comparações internacionais. São Paulo: Com-Arte; Fapesp, 2018.  Cap. 1. p. 28

Melissa Gurgel Adeodato Vieira

A Universidade, em especial, a pública  brasileira, tem como princípio constitucional a indissociabilidade do tripé ensino-pesquisa-extensão. Isso permeia desde a sua missão, passando pela elaboração de seu planejamento estratégico, definição das diretrizes e prioridades, atingindo todas as atividades finalistas da Universidade. Esse tripé, em conjunto com atividades de gestão da própria universidade são áreas estratégicas e inter-relacionadas. No ensino, de graduação e de pós-graduação, a função da universidade é formar com excelência profissionais de nível superior e pós-graduados qualificados e habilitados para resolverem os desafios da sociedade contemporânea em suas diversas áreas do conhecimento. Na pesquisa, as atividades são dedicadas à produção e à sistematização de novos saberes. A pesquisa científica agrega positivamente, de forma complementar, à formação de um profissional diferenciado, capaz de compreender e participar da construção do conhecimento. No eixo da extensão, cabe à universidade o papel de “devolver” à sociedade parte do que ela recebeu, ou seja, uma prestação de contas, que não deve ser confundida com um mero assistencialismo. Através da extensão, a universidade transforma o conhecimento que nela foi gerado em bens tangíveis e intangíveis que devem ser usufruídos por todos ou parte dos segmentos da sociedade. Mensurar adequadamente todos os impactos da universidade na sociedade por meio de indicadores significativos e comunicar à população em uma linguagem apropriada é um grande desafio que urge nos dias atuais. Indicadores tradicionais comumente empregados para avaliar o impacto social podem distorcer ou subestimar a real contribuição da ciência e das atividades acadêmicas da universidade, seja ela em aspectos econômicos/financeiros, políticos, culturais, ambientais, tecnológicos (inovação/empreendedorismo) ou de atividades de serviço, da saúde, e da qualidade de vida (bem-estar) da sociedade. O monitoramento do impacto social na Unicamp é feito empregando-se indicadores que avaliam a capacitação do profissional medida pela sua inserção em mercado de trabalho de relevância, a aplicação dos resultados de sua produção (acadêmica) na sociedade que apresentam impactos econômicos gerados pela criação de empresas-filhas e associadas (faturamento/ empregos gerados), inovação tecnológica, mensurada em número de patentes licenciadas ao setor produtivo, bem como de produtos gerados em decorrência do conhecimento e expertises dos docentes, discentes e pesquisadores na universidade e que se tornam em bens tangíveis à sociedade, além de impactos relacionados às atividades culturais e de contribuição às políticas públicas, a inclusão social na universidade e suas políticas de permanência estudantil, cursos oferecidos à sociedade, inserção da comunidade local atuando em projetos extensionistas.

Pedro Vinicius Pereira Brites

A universidade tem, sob minha perspectiva, como seu principal objetivo se configurar como um dos vetores do desenvolvimento social, econômico e humano de uma sociedade. Esse objetivo transborda para a inovação científica e tecnológica que são propulsores elementares do progresso. Em larga medida, é a aproximação com os demais setores da sociedade que vai permitir que a universidade atinja esses objetivos.

Em um país em desenvolvimento, esse caráter da universidade é ainda mais crucial. Diante da necessidade de superar as dificuldades e atrasos que o país vivencia em termos comparativos com os países desenvolvidos, a universidade exerce papel crucial para que o país encontre mecanismos para buscar seu desenvolvimento. Nas exitosas experiências internacionais dos países desenvolvidos, o sistema de ensino, especialmente as universidades, tiveram uma função central. O papel das universidades nesses países foi, em último grau, contribuir ativamente para a evolução dessas sociedades. O modo pelo qual a universidade contribuiu para o desenvolvimento foi variado, indo desde a inovação tecnológica e científica até a formação de capital humano, passando pela promoção de ações de desenvolvimento regional. Por ser um espaço ecumênico de construção e transgressão científica, onde as fronteiras do conhecimento são redefinidas constantemente e de modo sólido, as universidades tornam-se elementos fundamentais na trajetória de desenvolvimento de uma estratégia nacional.

A relevância das universidades para a sociedade deveria ser mais evidenciada e justificada para a população. Por essa razão, os mecanismos de monitoramento do impacto social devem estar alinhados com esses objetivos e serem capazes de mensurar os efeitos da universidade sobre o desenvolvimento. Os resultados e impactos de pesquisas desenvolvidas, atividades de cultura e extensão, o apoio ao desenvolvimento de políticas públicas são alguns dos principais pontos que devem ser mensurados para que se avalie o impacto da universidade na comunidade. A pesquisa institucional é um dos principais mecanismos para se monitorar esses itens. Em virtude disso, um dos objetivos tem sido o de aprimorar as ferramentas que auxiliem na coleta de dados sobre esses impactos. Complementarmente, outro mecanismo para monitorar o impacto social tem sido o de fortalecer os órgãos colegiados com a sociedade civil, incentivando o engajamento da sociedade e retorno da sociedade sobre as ações desenvolvidas pela universidade. O monitoramento consensual, apesar de difícil, decorre da construção coletiva da pesquisa institucional e do aprimoramento das ferramentas de coleta de dados, cada vez mais objetivas e alinhadas com algumas métricas nacionais e internacionais.

Rogério Luiz Buccelli

Sem dúvida uma das funções seculares da instituição universitária é formar pessoas com base na ciência e no conhecimento científico. Por conseguinte, o trabalho científico é parte determinante da sua existência. No entanto, não devemos confundir universidade com ensino superior. O ensino superior é uma continuidade do sistema educacional, pelo menos, de uma sociedade ocidental. A universidade é uma instituição criada na Europa Ocidental, no início do século XIII (Bolonha e Oxford, p.ex.) que reuniu e ainda reúne, diferentes áreas do saber científico em uma “comunidade de mestres e alunos” (CHARLE, Christophe; VERGER, Jacques. História das universidades. São Paulo: Editora da UNESP, 1996).

Desde então, tal instituição chamou para si a responsabilidade (função) de, simultaneamente, formar e produzir ciência.

Portanto, as universidades passaram a ser, ao longo dos séculos, o principal centro de desenvolvimento científico e tecnológico nos países da Europa, das Américas e, mais recentemente, da Ásia. Educação de nível superior, desenvolvimento científico e tecnológico são as principais funções da instituição universitária. O desenvolvimento econômico de um país, de forma soberana, depende da qualidade dessas instituições. Nesse sentido, a busca por indicadores que classifiquem as universidades e seu respectivo desempenho é mais do que necessário, é determinante na sua inserção internacional.

Impacto social: Existem diferentes propostas de se medir a inserção da universidade e de suas atividades no dia-a-dia da sociedade (PLANETA, C. et al. Impacto Social das Universidades) a ponto de se perceber a sua importância:

  1. Econômica: o primeiro ponto, seria o impacto direto e indireto no consumo local de bens e serviços dos membros da comunidade universitária – o seu efeito multiplicador de renda e produção; o segundo, a princípio intangível, seria o valor agregado que cada novo profissional carrega após se formar. A qualidade desse profissional no mercado de trabalho (egressos e local de trabalho) e o impacto na produção local, nacional e internacional.
  2. Social: número de alunos de graduação e pós-graduação formados e sua relação com o número potencial de jovens e adultos com potencial de elevar seu grau de formação formal.
  3. Empreendedora: número de licenciamentos, Spin-offs e empresas associadas, convênios e parcerias com empresas micro/pequenas/médias; com grandes corporações e poder público.
  4. Na produção intelectual, cultural e artística do país: livros, peças de teatro, etc.
  5. Na gestão administração pública: qualidade das políticas públicas.
  6. Reputação; reconhecimento da sociedade por meio de pesquisas de opinião.