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Análises Conteúdos Monitor de Rankings

Times Higher Latin America 2019

O ranking Times Higher Latin America usa a mesma metodologia do ranking global, com ponderações levemente diferentes. A ponderação para citações é mais baixa (20%, em comparação com 30% no ranking global), mas no restante a metodologia é idêntica.

ethodology graphic Latin America rankings 2019
Figura 1

Diferentemente do ranking global, o número mínimo de artigos publicados é 200 entre 2013 e 2017, para ser considerado para inclusão.

Coleta de dados

O levantamento de reputação ocorre entre janeiro e março de cada ano, as informações sobre as citações e publicações são coletadas do índice Scopus em abril do ano anterior – os dados deste ranking referem-se ao período 2013-2017. Todos os outros dados são autorrelatados por meio do portal da Times Higher Education.

Link para a metodologia: Times Higher Latin America 2019 Methodology

A quem o ranking favorece?

Como a metodologia da Times Higher como um todo é baseada em relações descritivas ou é normalizada pelo número de funcionários acadêmicos, esse ranking não mede o impacto sobre o mundo ao seu redor, mas sim as características institucionais. Sua dependência na medição das informações financeiras significa que as instituições privadas, pequenas, bem financiadas geralmente irão ter um melhor desempenho do que as instituições públicas, grande, abrangentes.

Gráfico: Universidades selecionadas da América Latina


PosiçãoPontuaçãoCitaçõesRenda da indústriaInternacionalPesquisaEnsino
PUC-Chile188,689,798,992,399,875,1
USP28874,95659,910091,7
Unicamp387,87171,857,199,992,6
UFMG882,580,35252,588,689,6
Universidad de los Andes981,48646,981,687,375,9
Unesp1079,741,945,341,798,593,4

Link para os resultados listados acima: Times Higher Education 2019 Results

Data da publicação: 18 de junho de 2019

Análise dos resultados 2019

A manchete que foi divulgada amplamente no Brasil é que uma universidade chilena está no topo do ranking pela primeira vez. Como mostra esta tabela, o desempenho da PUC-Chile foi excelente na edição 2019, mas na realidade foi muito próximo do da USP e Unicamp nos últimos vários anos, pois esta é uma metodologia que favorece as instituições pequenas, bem financiadas, privadas e internacionais, como a PUC-Chile, muito mais do que as universidades públicas grandes.

A produção de pesquisa da PUC-Chile é significativamente menor do que a de qualquer uma das universidades estaduais de São Paulo (na Microsoft Academic; 32.318 artigos, comparada com 236.546 para a USP, 93.452 para a Unicamp e 91.534 para a Unesp). Isso tem algumas consequências importantes para o cálculo. Primeiro, porque todos são pontos fora da curva, situando-se bem acima de dois desvios padrão da média para as universidades da América Latina, e assim em um z-score, essa diferença não é representada pela escala – toda pontuação a partir de 98,5-100,0 para pesquisa – onde é contado, apesar de haver uma enorme diferença numérica.

As consequências disso refletem-se no indicador citações. PUC-Chile e Universidad de los Andes publicam em volumes muito menores do que as universidades estaduais, significando que o pequeno número de artigos, com um alto número de citações, tem um efeito de sobredimensionamento no número médio de citações por artigo, em comparação com grandes conjuntos de dados. Por essa razão, universidades como Diego Portales (401 artigos em 2017) e Cayetano Heredia (482 publicações em 2017) e a Universidad Icesi (238 artigos em 2017) tiveram um desempenho extremamente bom. Esse não é um fenômeno presente nos rankings globais, onde é usado um corte mínimo das publicações (geralmente 1.000 artigos). 

Quando os artigos no topo 10% por citação são comparados (como em rankings tais como o Leiden e NTU), as universidades estaduais de São Paulo têm um desempenho muito melhor do que essas instituições. Apesar de o impacto de citação ser uma questão residual para as universidades estaduais, isso ocorre em comparação com as universidades globais. Esse indicador é enganoso quando aplicado a uma mistura de conjuntos de artigos pequenos e grandes. Um parâmetro de referência mais relevante para muitas dessas instituições seria analisar os campi da Unesp isolados.

As universidades são muito menos internacionalizadas do que as universidades privadas chilenas, colombianas e argentinas. Em parte, isso ocorre por causa do constante movimento da população jovem ao redor da América Latina falante do espanhol. Isso também ocorre porque, por muitos anos o Chile, e nos últimos anos a Colômbia, têm sido extremamente proativos em fomentar o intercâmbio de alunos e os laços de recrutamento como os países desenvolvidos, especialmente com os Estados Unidos. 

Consequentemente, essas universidades publicam em colaboração internacional em um número extremamente alto; muito mais alto do que as universidades comparáveis a universidades estaduais (72,6% no Leiden Ranking, em comparação com 65,7% para a Sorbonne, 30% para as universidades C9, e 40-45% para as universidades estaduais de São Paulo). Esses números são excepcionalmente altos, e não são comumente encontrados em universidades públicas grandes, como as universidades estaduais de São Paulo.

Todas as três universidades estaduais tiveram pontuações mais altas para ensino do que qualquer uma das universidades ao seu redor, e tiveram virtualmente a mesma pontuação, ou até mais alta, para pesquisa.

O motivo pelo qual a PUC-Chile movimentou-se para o primeiro lugar na edição de 2019 é porque melhoraram sua pontuação na receita institucional até 45 pontos, em comparação com 2018, enquanto as pontuações da Unicamp e da USP permaneceram virtualmente as mesmas. Uma mudança como essa é muito improvável de ter sido causada por uma alteração no desempenho, mas na maneira como a universidade registrou e apresentou os dados institucionais para a Times Higher Education.

Prioridades para a ação

As universidades estaduais posicionam-se de modo a ter grandes ganhos nesse ranking pela melhora da sensibilidade e precisão de seus registros da receita institucional a partir de recursos extra-orçamentários. Isso requer a melhora da articulação entre as pró-reitorias de inovação e as fundações. As universidades também deveriam buscar fomentar um ambiente que incentive os funcionários acadêmicos a usarem sua experiência e conhecimento em contextos não acadêmicos, e relatarem os benefícios derivados dessa atitude.

 A PUC-Chile tomou a decisão de tornar-se um polo de empreendedorismo e inovação nos últimos anos – demonstrado pelo fato de sua vizinha, a Universidad de Chile, ter obtido a pontuação de apenas 36,9 nesse indicador. As pontuações da USP, Unicamp e UNESP nesse item foram, respectivamente, 56, 71,8 e 45,3.

Na maioria dos outros aspectos do ranking THE Latin America, todas as três universidades estão em posições favoráveis ou dominantes, apesar da metodologia não ser necessariamente favorável a elas.