O primeiro encontro da comunidade métricas aconteceu no dia 30 de outubro de 2024 no Auditório da biblioteca da FEA no Campus da Cidade Universitária da USP.
Durante o encontro foram feitos dois anúncios de interesse da comunidade: a divulgação de um documento de intenção das 6 universidades públicas de São Paulo em estabelecer uma rede permanente de colaboração e o oferecimento de um curso de curta duração entre os dias 27 e 31 de janeiro de 2025, que tratará do tema da mensuração de impacto em IES. As inscrições estão abertas até o dia 16 de dezembro pelo site do projeto.
Abertura
A Professora Dolores Montoya salienta o significado do evento, realçando o impacto dos projectos interdisciplinares nas universidades. Reconhece a diversidade dos participantes e a importância de reconhecer as diferenças e de trabalhar para objetivos comuns.
A Professora Lia Rita (Unifesp) partilha a sua ligação pessoal ao projeto, salientando a sua evolução e a comunidade que promoveu. Refere o sucesso do projeto na mudança da forma como os dados e os indicadores são vistos, centrando-se no impacto social e não apenas em valores numéricos. Lia Rita destaca as conquistas do projeto, incluindo a aprovação da continuação do financiamento e a formação de uma rede de colaboração entre várias universidades de São Paulo. O objetivo desta rede é partilhar conhecimentos e reforçar os esforços coletivos no ensino, na pesquisa e na extensão universitária.
Maria Arminda discute o uso estratégico de dados e indicadores para aprimorar a gestão universitária e o desempenho institucional entre uma rede de seis instituições. Eles expressam felicidade com essa iniciativa, enfatizando a importância de compartilhar dados e experiências para melhorar o desempenho institucional. A expositora, Vice-Reitora da USP, reflete sobre o compromisso da instituição em abordar as questões de gênero na gestão universitária, destacando a formação de um grupo de vice-reitoras. Relata os esforços para reunir dados sobre a representação de género na universidade, ilustrando a necessidade de investigação e de indicadores para compreender e melhorar as realidades institucionais. A professora sublinha que o conhecimento do mundo é adquirido através da pesquisa, que desempenha um papel crucial nas ciências sociais e na vida universitária.
A palestrante discute o papel dos pesquisadores na compreensão da vida social, enfatizando que ela não é transparente e que há necessidade de uma mensuração e classificação cuidadosa dos dados, principalmente no que diz respeito às políticas de gênero nas universidades públicas de São Paulo. O esforço é de quase três anos e envolve a colaboração de vários representantes das universidades. O projeto visa harmonizar dados e conceitos entre instituições para facilitar a ação coletiva sobre questões de gênero. Uma motivação importante para esta iniciativa foi a questão de saber porque é que as mulheres estão sub-representadas na liderança das universidades. A oradora refere que os resultados serão compilados num livro a publicar pela Edusp, previsto para março, que incluirá análises e reflexões sobre o género na vida universitária.
Jacques Marcovitch sublinha a importância de prosseguir com as atividades de extensão e de assumir responsabilidades que vão para além de um único mandato. Salienta a necessidade de indivíduos capazes ocuparem papéis de decisão no sistema universitário, reconhecendo que aqueles que dão prioridade à sua investigação podem optar por não assumir tais responsabilidades. “O orador chama a atenção para a importância de “reconhecer tanto os homens como as mulheres que aceitam papéis de liderança no ensino superior e incentiva a audiência a aplaudir três líderes femininas de diferentes universidades”. Salientam que o facto de terem diplomados do seu projeto em posições-chave irá melhorar o sistema de ensino superior em São Paulo e servir de exemplo para o resto do Brasil.
Depoimentos da comunidade
A primeira expositora, Debora Chadi do IB-USP expressa gratidão pela oportunidade de compartilhar suas experiências e reflete sobre a importância das métricas no contexto acadêmico. Ela menciona que, durante seu curso, trabalhou na Pró-Reitoria de Pesquisa, onde implementou ações para promover a ciência aberta na universidade, culminando na criação do portal USP de ciência Aberta e na assinatura do Dora. Ela destaca a necessidade de uma aproximação mais efetiva entre a universidade e a sociedade, apontando que as universidades paulistas estavam com baixo engajamento regional.
Para abordar essa questão, seu trabalho de conclusão do curso focou em desenvolver uma estratégia para melhorar essa interação. Embora não tenha conseguido implementar todas as ideias, ela está organizando uma análise no Instituto de Biociências para aprimorar essa aproximação. Além disso, menciona a criação de um programa chamado “Ciência para o Futuro” que visa conectar a universidade a setores da sociedade interessados em soluções para problemas sociais. Por fim, enfatiza a importância de continuar a interação com a sociedade e o engajamento dos egressos nos próximos anos.
Maria Alice Zarur Coelho, da UFRJ, enfatiza a importância da responsabilidade da universidade na formação de estudantes como líderes e seu papel na sociedade. Ela destaca a necessidade de integrar práticas de avaliação responsável com pesquisa e inovação, promovendo a ciência aberta e o compartilhamento colaborativo. Ela menciona a insatisfação com a avaliação de produtividade em pesquisa, que muitas vezes é confusa e baseada em critérios quantitativos. Juntamente com um grupo de colegas, ela iniciou um debate sobre o que significa ser um pesquisador produtivo e a relevância social da pesquisa.
Isso levou à criação de novas métricas de avaliação que consideram o impacto na comunidade de engenharia química e a formação de recursos humanos. Recentemente, o CNPQ lançou novos critérios de avaliação, refletindo essa mudança de enfoque, e um piloto foi realizado para testar essas novas abordagens antes da implementação completa. Ela discute a importância de mudar a mentalidade na academia, enfatizando que a produtividade não deve ser medida apenas pelo número de publicações ou pelo fator de impacto das revistas, mas também pelo impacto que se pode ter na comunidade. Ele menciona sua experiência como coordenadora de um novo programa de pós-graduação que integra engenharia química e biologia, destacando a necessidade de métricas que realmente reflitam a transformação social.
Elmer Genaro da UNESP fala sobre a criação de um escritório de gestão de dados na UNESP, que visa apoiar a alta gestão e promover a transparência através da coleta e análise de dados acadêmicos e administrativos. Ele reconhece os desafios na implementação de uma cultura de dados nas universidades, mas acredita que a troca de experiências entre instituições pode ajudar a superar esses obstáculos e contribuir para a construção de indicadores que melhorem a gestão e a avaliação institucional.
Marina Caldeira, que participou da primeira turma do curso, é gerente de inovação da Faculdade de Medicina e discute a importância do mapeamento e construção de dados na universidade, destacando como um escritório de gestão de dados trouxe inteligência institucional, automatizando processos que antes eram manuais. Isso permitiu que os docentes se concentrassem em suas atividades principais, como no caso do programa de iniciação científica, onde a submissão de projetos e a geração de métricas foram facilitadas. O escritório também ajudou a desburocratizar o acesso à informação, promovendo uma cultura de compartilhamento em uma universidade com múltiplas unidades. A colaboração entre instituições e a participação em comissões de rankings foram mencionadas como essenciais para fortalecer essa rede. Em seu depoimento, ela ressaltou como um curso sobre métricas foi valioso durante a pandemia, proporcionando um espaço para reflexão e aprendizado. O trabalho em grupo realizado durante o programa do curso analisou projetos acadêmicos e indicadores, resultando em melhorias nas avaliações. A experiência culminou na criação de um escritório de gestão de dados na faculdade, com apoio da direção, demonstrando a evolução e a incorporação das práticas aprendidas no curso.
No último depoimento da mesa, o professor Ronaldo Thomatieli da Unifesp fala sobre a trajetória de um profissional que passou por várias funções na universidade, incluindo a pró-reitoria de graduação e assistência médica da instituição, até se tornar assessor acadêmico. Ele destaca a importância de integrar dados da faculdade de medicina e do hospital, enfatizando a complexidade dessas informações.
O escritório em que trabalha auxilia na elaboração do projeto acadêmico e na pesquisa, promovendo a colaboração com a comissão de pesquisa e criando um portal para a produção científica. Ronaldo também menciona como o aprendizado em métricas influenciou seu trabalho, especialmente ao ensinar professores a elaborar resumos de suas trajetórias acadêmicas. Ele expressa gratidão pela oportunidade de participar de um curso de métricas, que lhe proporcionou um entendimento mais profundo da relação entre a universidade e a sociedade, além de um conhecimento institucional valioso. Ao se tornar tutor do curso, teve a chance de aprender sobre os desafios enfrentados por outras universidades, percebendo que muitos problemas são comuns, enquanto outros são únicos a cada instituição.
Thomatieli compartilha sua experiência como tutor das edições subsequentes do curso, representando a Unifesp, destacando que continua aprendendo com as instituições parceiras e utilizando esse conhecimento para melhorar a própria universidade. Além disso, menciona que a maioria das tomadoras de decisão na universidade são mulheres e egressas do curso de métricas, o que representa um avanço significativo.
Resultados da pesquisa com a comunidade
Justin Axel-berg, que coordena a pesquisa do projeto agradece a todos que participaram da pesquisa e expressa arrependimento pelo uso do termo “egressos”, reconhecendo a colaboração e amizade que se formaram ao longo dos anos.
Ele destaca que a pesquisa realizada com 360 membros da comunidade teve 112 respostas de 35 instituições, majoritariamente do Sudeste, e sugere que futuras pesquisas devem buscar engajar mais participantes de outras regiões. A análise dividiu os respondentes em grupos e revelou que, apesar das diferenças nas instituições, a aplicabilidade do conhecimento adquirido foi bastante uniforme. Desafios como a inércia institucional e problemas orçamentários dificultam a aplicação do conhecimento. Ele observa que, ao longo dos últimos cinco anos, houve uma melhoria no uso de dados, com os estaduais paulistas apresentando melhores resultados em comparação com as federais. Além disso, as prioridades para os próximos cinco anos variam entre os grupos, com os estaduais focando em inclusão social e comunicação externa, enquanto os federais já têm políticas mais estabelecidas nesse sentido.
O vídeo aborda a relação entre universidades federais e suas comunidades locais, destacando que os respondentes relataram impactos significativos nas suas trajetórias profissionais após participar do curso. Cerca de 84% dos participantes notaram melhorias em suas atividades profissionais, enquanto 70% mencionaram impactos institucionais positivos. Exemplos de resultados incluem a criação de indicadores de gestão e novos dashboards de dados.
O papel dos tutores foi considerado fundamental para a qualidade do curso, e a necessidade de apresentar mais evidências de implementação de projetos anteriores foi ressaltada. Também foi mencionado que as instituições devem considerar as diversidades regionais e peculiaridades institucionais. O engajamento dos egressos, como demonstrado pela Unifesp, foi destacado como crucial para o sucesso do projeto. Por fim, há uma preocupação em como manter o envolvimento da crescente comunidade de egressos.