Categorias
Destaques Seminários Videos

Mobilizando a política local para proteger a ciência e a tecnologia. O exemplo de São Carlos

Esse texto sumariza a contribuição da Professora Yvonne Mascarenhas (IFSC-USP) ao V Workshop Metricas, realizado em dezembro de 2020. O texto relata a longa história de interação entre universidade e sociedade na região de São Carlos, no estado de São Paulo. Essa relação se demonstrou instrumental na mobilização entre legisladores para assegurar o financiamento público para a educação superior no ano de 2021 e além.

Em primeiro lugar, gostaria de cumprimentar os Profs. Nina Ranieri, John Aubrey Douglas e Elizabeth Balbachevsky com os quais tenho a honra de participar neste painel. Agradeço também ao Prof. Marcovitch o amável convite para participar deste workshop, em função de minha modesta contribuição na luta para evitar alguns cortes drásticos no Orçamento do Estado de São Paulo 2021 nos recursos para o financiamento das Universidades do Estado de São Paulo, USP, UNICamp e UNESP, e ao orçamento de nossa principal Agência Estadual de Pesquisa, a FAPESP.

Só fiz o que estava ao meu alcance, morando no interior de São Paulo e trabalhando no Campus São Carlos da Universidade de São Paulo: enviei um texto de protesto a todos os representantes da Assembleia Legislativa de São Paulo e incentivei outros pessoas a fazerem o mesmo. Também entrei em contato com um membro da Assembleia legislativa de nosso Município para pedir seu apoio e ele me disse que já havia enviado uma mensagem semelhante aprovada por unanimidade por seus membros.

Fiz isso principalmente porque testemunhei pessoalmente o esforço pelo desenvolvimento de nossas Universidades Estaduais e sua crucial importância para a formação de profissionais científicos e tecnológicos extremamente necessários ao desenvolvimento social e econômico do Estado de São Paulo e do Brasil. Isso foi conseguido com o apoio vital do Conselho Nacional de Pesquisa, o CNPq fundado em 1951 e posteriormente, da FAPESP a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo criada em 1960. Todo o esforço foi então para conduzir o ensino universitário do país a alcançar não só o estado da arte do conhecimento em todas as áreas, mas também estimular a pesquisa e a criatividade no sentido de abrir novas empresas.

Esse objetivo era então evidente para alguns membros de nosso departamento, principalmente nossos colegas: Silvio Goulart Rosa, físico teórico, e Milton Ferreira de Souza, físico do estado sólido. Para eles era fundamental a criação de Centros de incubação de novas empresas iniciados por nossos alunos doutorados no Brasil ou no exterior. Eles se empenharam muito para convencer a administração do CNPq da importância de suas ideias. Eles tiveram sucesso em 1980, quando o professor Linaldo Cavalcanti, então presidente do CNPq, criou quatro incubadoras de empresas, uma em São Carlos.

A incubadora de São Carlos, a primeira em toda a América Latina, teve início em 1984 sob a orientação de Silvio Goulart Rosa e Milton Ferreira de Souza e foi batizada de Parque de Alta Tecnologia de São Carlos, ParkTek. Logo recebeu muitas start-ups tanto da USP quanto da UFSCar.

Uma contribuição significativa para essas ideias veio em 1997 com a criação do Programa PIPE da FAPESP (Programa de Inovação para Pequenas Empresas), que tinha como objetivo financiar pequenas empresas em várias etapas, de acordo com suas realizações. Este programa foi um grande sucesso e apoiou a criação de 1778 projetos de start-ups aprovados até 2017, quando o programa completou 20 anos.

O apoio oficial das Universidades veio em 2003 com a criação da Agência USP de Inovação (AUSPIN), e em 2008 com a criação da Agência UNICamp de Inovação e da Agência de Inovação UFSCar.

Todos esses esforços produziram excelentes resultados, mostrando que empresas start-ups apoiadas nos estágios iniciais de crescimento por fundos estatais podem se desenvolver quando hospedadas em Incubadoras de Negócios e, posteriormente, tornarem-se empresas autossustentáveis ​​atraindo recursos mais consideráveis ​​de aceleradoras de negócios. Dessa forma, somente na São Carlos foram criadas mais de 150 empresas, baseadas em tecnologia moderna, incubadas apenas na ParkTec.

Agora cito alguns exemplos de novas empresas tecnológicas da São Carlos: DNA Consult (empresa de biotecnologia que iniciou os testes de Coronavirus assim que os testes ficaram disponíveis), NANOX (produção de nanopartículas metálicas para diversas aplicações), Brain4care (equipamento que utiliza um novo método para a medição não invasiva da pressão intracraniana), RAZEQ Aerospace, instrumentação para satélites), etc.

Resultados semelhantes foram produzidos em outras regiões do Estado de São Paulo, principalmente Campinas, São Paulo, São José dos Campos, Piracicaba e Ribeirão Preto (aplicações de microeletrônica, Automação, Algoritmos, Softwares, para melhorias em Medicina, Negócios, Agricultura, Farmacêutica,… )

 Todas as atividades de ensino e pesquisa em nossas universidades estaduais e todas as novas empresas start-up corriam risco se as propostas de cortes do Orçamento Geral do Estado para 2021 nos recursos para a manutenção da FAPESP e das Universidades fossem aprovadas pela Assembleia Legislativa do Estado, e eu, e todas as comunidades das universitárias, não poderíamos assistir a essa ameaça ao nosso desenvolvimento futuro sem uma forte reação.