O ranking QS World University Rankings tem por objetivo orientar estudantes e seus familiares na escolha de instituições de ensino superior para sua formação. A metodologia do ranking baseia-se em: pesquisa de opinião acadêmica (40%); pesquisa de opinião de empregadores (10%); número de estudantes por docente equivalente a regime integral (ERI) (20%); número de citações por docente ERI normalizado por área de conhecimento e ano de publicação (20%); proporção de estudantes internacionais (5%); e proporção de docentes estrangeiros (5%).
Cabe registrar que a Quacquarelli Symonds é uma empresa de consultoria educacional que oferece orientação a jovens e seus familiares, além de organizar feiras de recrutamento de estudantes para universidades em escala global. O resultado nesse ranking depende mais da reputação institucional (50%) do que qualquer outro ranking semelhante e, portanto, tende a valorizar mais o reconhecimento de segmentos da sociedade do que o desempenho das instituições.
As pontuações de reputação consideram uma média ponderada contínua dos últimos cinco anos com pesos decrescentes. As respostas coletadas no período de novembro de 2020 a janeiro de 2021 recebem 100% de consideração, no ano anterior 80%, no ano anteanterior 60% e assim sucessivamente. As citações são medidas pelo número de docentes equivalente a regime integral (ERI), normalizados por área de conhecimento e ano de publicação. Devido à falta de confiabilidade das análises de citação para publicações recentes, o período 2015-2019 é considerado neste ranking. Portanto, não é um reflexo das condições atuais, mas do passado recente.
Como sempre, é destacada a importância do aspecto de “reputação do empregador” neste ranking, por se tratar da maior pesquisa de opinião entre empregadores de egressos de universidades em nível global. O indicador traz consigo uma série de problemas de ordem metodológica. As pesquisas de reputação entre empregadores tendem a distorcer os resultados, privilegiando as instituições já conhecidas e com tradição estabelecida. Não há nenhum tipo de ponderação ou tratamento com respeito à distribuição geográfica ou por setor dos respondentes. Apesar de um esforço para a normalização posterior dos resultados dessa enquete feita pelos editores do ranking, esse efeito da heterogeneidade da amostra de respondente não pode ser eliminado completamente. Frequentemente, os empregadores não têm relações próximas com as universidades que estão julgando. Não obstante, é uma medida importante para as instituições saberem como são percebidas pelos stakeholders externos.
Reputação com os empregadores
O indicador de reputação do empregador é baseado em uma combinação de respondentes nacionais e internacionais ao survey global de reputação do empregador da QS. Isso significa que, embora a opinião dos empregadores internacionais seja levada em consideração, o peso dado ao pequeno número de entrevistados nacionais na pesquisa tem um efeito determinante sobre o desempenho neste indicador. Isso é especialmente verdadeiro para universidades não consideradas como as mais dominantes em seu país. Pessoas de fora do ensino superior, mas em posições de autoridade dentro das empresas, governo ou no terceiro setor, são convidadas a fornecer uma lista das instituições que consideram as melhores para efeito de contratação de mão de obra. Essas pessoas são convidadas a identificar uma região com a qual estão familiarizadas. Em seguida, são solicitadas a nomear até dez instituições nacionais e até 30 instituições regionais.
É importante observar a natureza desse indicador. Ou seja, não é um indicador de desempenho, e não se relaciona diretamente a nenhuma atividade da universidade. É uma medida proxy de como o público expressa sua opinião sobre o desempenho das instituições de ensino superior.
Foram escolhidas as duas universidades com melhor posicionamento de uma série de países para avaliar a relação entre o comportamento dos respondentes da pesquisa nacional e o desempenho na reputação do empregador.
QS 2022 Ranking resultado para Reputação do Empregador
Universidade 1 | Universidade 2 | Média. | Número de universidades na lista | % da amostra do survey (2020) | |
Brasil | 71,3 | 34,3 | 52,8 | 27 | 1,66 |
Argentina | 93,4 | 45,8 | 69,6 | 24 | 1,3 |
Chile | 97,6 | 92,3 | 94,95 | 20 | 1,29 |
Rússia | 76,5 | 48,7 | 62,6 | 48 | 2,61 |
Colômbia | 95,2 | 94,2 | 94,7 | 19 | 1,37 |
México | 93,2 | 90,4 | 91,8 | 24 | 1,4 |
Malásia | 91,7 | 56,4 | 74,05 | 22 | 1,36 |
Espanha | 36,5 | 56,7 | 46,6 | 29 | 2,73 |
Portugal | 27,7 | 20,2 | 23,95 | 7 | 1,35 |
Itália | 81,1 | 46,6 | 63,85 | 41 | 2,38 |
Turquia | 27,5 | 20 | 23,75 | 22 | 1,54 |
Em notas técnicas anteriores, observamos que o número de universidades classificadas por país talvez seja o responsável pela baixa pontuação do Brasil nesse indicador. A tabela acima, entretanto, sugere que este não é o caso – o número de universidades classificadas por país não tem nenhuma correlação com a pontuação da reputação do empregador. Na verdade, o país com as pontuações mais baixas de todos, Portugal, tem o menor número de universidades, enquanto a Rússia e a Espanha, que têm o maior número de universidades, também não tiveram um bom desempenho.
Também é pouco presumível considerar que as instituições colombianas, mexicanas e chilenas tenham uma qualidade de ensino superior às instituições brasileiras, espanholas ou portuguesas, e certamente não há uma referência clara para explicar a diferença de 70 pontos entre Portugal e o Chile neste ranking.
O status jurídico da universidade também não parece ter um efeito marcante na pontuação de reputação do empregador – a UNAM tem uma pontuação mais alta do que a Monterrey Tech, os escores da PUC-Chile e Universidad de Chile são muito próximos, e há mais semelhanças entre essas instituições do que elas têm com outras universidades do mesmo status. O mesmo se aplica para a Colômbia, onde a Universidad de los Andes e a Universidad Nacional estão próximas em pontuação e mais perto do que qualquer uma das duas em relação às suas contrapartes públicas ou privadas em outros países.
Também sugerimos que a porcentagem de respondentes nacionais foi importante, mas, nesta amostra, também não parece ter sido o fator determinante do desempenho. A Espanha tem a maior taxa de respostas entre a amostra, mas uma das pontuações mais baixas. O Chile e a Colômbia têm as taxas de respostas mais baixas e os escores mais altos, enquanto a taxa de participação é quase idêntica à de Portugal, que é a mais baixa de todas. Como há apenas análises de amostra disponíveis até 2020, recriamos a tabela para essa edição do ranking, e notamos muito pouca diferença no desempenho.
Viés linguístico
Uma possível causa do baixo desempenho das instituições brasileiras é que, ao serem solicitados a citar instituições, é provável que empregadores na América Latina considerem mais as melhores universidades de língua espanhola como opções de contratação do que as de língua portuguesa. Portanto, é mais provável que um respondente chileno escolhesse a UBA, ou a Universidad de los Andes, do que a USP ou a Unicamp, devido às limitações linguísticas envolvidas na contratação de alguém cujo primeiro idioma não seja o espanhol.
As instituições espanholas e portuguesas provavelmente são prejudicadas por estarem em uma região excepcionalmente competitiva – Europa Ocidental, onde há várias instituições renomadas, que ensinam predominantemente em inglês, e são mais propensas a receberem votos dos respondentes internacionais.
Parece, portanto, que os resultados da pesquisa de reputação do empregador para as principais universidades baseiam-se mais nos seus ambientes internos do que externos. E mais nos aspectos sociais e políticos do entorno e nas relações do seu sistema universitário com a comunidade externa, do que no desempenho de instituições individuais.
No caso do Brasil, não por acaso a pontuação de suas duas instituições mais proeminentes caiu (mais de 10 pontos para a USP e 28 pontos para a Unicamp) na edição de 2019, lançada em 2018. A hostilidade por parte do governo federal, e as impugnações contínuas às universidades, levou a uma série de matérias na mídia e debates sobre o “fracasso” do ensino superior, especialmente no que se refere à oferta de mão de obra qualificada para o mercado. Esse movimento político não aconteceu no Chile, Argentina, Colômbia ou no México. Como consequência, o desempenho do Brasil no indicador divergiu drasticamente deste grupo.
Poderíamos argumentar que esse indicador é mais útil, considerando o reflexo da estima geral do ensino superior por um setor da sociedade. Como tal, ele é influenciado pela comunicação pública e ambientes políticos. Deve ser visto como um desafio coletivo pelos sistemas universitários e não uma dimensão de desempenho de uma única instituição.
A construção do conhecimento e da compreensão do desempenho do ensino superior deve ser realizada no estado de São Paulo como uma ação coletiva para ter um impacto positivo para cada instituição.
Ações Prioritárias para Instituições do Estado de São Paulo
- Criar indicadores consistentes e simples de entender sobre os resultados da graduação e o seu impacto econômico. Indicadores que idealmente passem a ser usados por todas as instituições.
- Aprimorar o monitoramento dos egressos de graduação e de pós-graduação e recomendar aos empregadores que respondam às pesquisas (surveys) que lhes são enviadas.
- Identificar benchmarking internacional (instituições de referência) para o desempenho das universidades sediadas em São Paulo, e suas contribuições para a economia local.
- Comunicar esse impacto de forma ampla, mostrando não apenas excelência institucional individual, mas a excelência sistêmica.
- Aprimorar os conteúdos relativos às análises de comparações internacionais e, em seguida, a comunicação por meio das mídias sociais e institucionais.
- Monitorar os egressos no exterior, para que permaneçam engajados com as universidades brasileiras e contribuam para sua projeção internacional.