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QS 2020

Como um dos “três grandes” rankings universitários, o QS sempre recebe muita atenção da mídia. A empresa presta mais atenção à otimização dos motores de busca do que qualquer outra organização, significando que, quando um usuário casualmente buscar o termo “university ranking” no Google, QS é quase sempre o primeiro resultado aparecer.

Por que o QS é importante?

Como um dos “três grandes” rankings universitários, o QS sempre recebe muita atenção da mídia. A empresa presta mais atenção à otimização dos motores de busca do que qualquer outra organização, significando que, quando um usuário casualmente buscar o termo “university ranking” no Google, QS é quase sempre o primeiro resultado aparecer. Portanto, é importante para o perfil público da universidade estar bem posicionada neste ranking. Ele confere um peso maior para a reputação e o prestígio do que outros rankings, e assim é o guia mais próximo para a opinião internacional da universidade, bem como o único ranking maior a incluir a reputação do empregador, dando uma boa noção de como a universidade é vista em termos de qualidade pelos empregadores mais relevantes.

Além disso, o QS inclui muito mais instituições de fora do eixo EUA/RU no topo 100; 25 universidades asiáticas e 34 europeias figuram no topo 100.

Metodologia

Metodologia do QS

O QS depende de comparativamente poucos indicadores; apenas seis, dos quais, diferentemente da Times Higher Education, nenhum é composto (formado por múltiplos componentes). Isso torna relativamente muito mais fácil interpretar o desempenho em cada um. Metade de toda a ponderação é dada para a pontuação recebida em reputação.  A reputação acadêmica é definida por um levantamento global dos acadêmicos, a quem se pede que nomeiem até 10 instituições domésticas e até 30 instituições globais que eles consideram as melhores em suas áreas de conhecimento. Essas pontuações são então combinadas (85% internacionais para 15% domésticas) para alcançar o total. Esse número de instituições é muito mais alto do que no levantamento THE, o que possivelmente explica porque existe maior diversidade na lista de instituições selecionadas, e porque as instituições asiáticas e latino-americanas têm um desempenho melhor no QS do que no THE. Uma descrição pormenorizada desse processo está disponível aqui.

Um levantamento dos empregadores é conduzido da mesma maneira, exceto que é dada uma ponderação de 50% para as respostas locais, em comparação com as internacionais.

Para representar o ambiente de ensino, uma relação simples entre os funcionários acadêmicos FTE (equivalente RDIDP)/alunos FTE matriculados nos programas de graduação e pós-graduação atribui-se 20%. São atribuídos 5% para cada uma das relações entre alunos internacionais/alunos domésticos e docentes internacionais/docentes domésticos.

As citações são medidas por um período de cinco anos (2013-2017), usando uma “ Contagem Total de Citações Normalizada”, significando que o número de citações é ajustado para refletir as citações esperadas para a área de conhecimento. A pesquisa é dividida em cinco áreas: artes e humanidades, engenharia e tecnologia, ciências da vida e medicina, ciências naturais e ciências sociais, que recebem um valor ponderal igual. Entretanto, existe uma abordagem escalada para artes e humanidades, e ciência sociais, baseada na produtividade, para evitar o viés linguístico excessivo (já que essas áreas tendem a usar mais outros idiomas do que o inglês). Esse número é então dividido pelo número de funcionários acadêmicos FTE. Uma explicação técnica detalhada está disponível aqui.

Resultados do QS 2020

Os resultados estão disponíveis aqui

USP

AnoPosiçãoPontuaçãoCitaçõesAlunos internacionaisDocentes InternacionaisDocentes/discentesReputação do EmpregadorReputação Acadêmica
202011655,535,23,78,925,273,388,3
201911855,530,74,39,6 28,280,487,2
201812159,125,7

31,490,294,8

A USP tem ocupado praticamente a mesma posição dos últimos três anos, entretanto, o que é notável é o colapso nos votos do indicador reputação do empregador, e um declínio considerável no indicador reputação acadêmica. Em parte, ambos têm sido causados por uma gradual “orientalização” das amostras, à medida que mais respondentes da Ásia estão participando do QS, mas essa é uma área em que a USP deveria prestar muita atenção.

Contudo, esse declínio nas pontuações de reputação foi compensado por uma elevação impressionante em citações por docentes, refletindo o fato de que a produção de pesquisa da universidade está ganhando uma atenção mais científica mundialmente do que antes, mesmo quando esteja operando sob circunstâncias difíceis para o financiamento das pesquisas.

Unicamp

AnoPosiçãoPontuaçãoCitaçõesAlunos internacionaisDocentes InternacionaisDocentes/discentesReputação do EmpregadorReputação Acadêmica
202021442,132,74,39,921,134,567,5
201920443,3315,111,12745,265,6
201818249,530


73,476,9

A Unicamp tem perdido posições consideravelmente neste ranking ao longo dos últimos três anos, principalmente nos indicadores de reputação, especialmente no indicador reputação do empregador. A melhora no indicador de citações tem sido constante, mas não foi suficiente para compensar essas perdas no prestígio institucional.

Unesp

AnoPosiçãoPontuaçãoCitaçõesAlunos internacionaisDocentes InternacionaisDocentes/discentesReputação do EmpregadorReputação Acadêmica
202048224,614,72,25,935,515,531,2
201949123,912,95,16,838,215,328,8
2018491-500



27,4
37,2

A Unesp ocupou o mesmo posto do ranking ao longo dos últimos três anos, com suas perdas nas pesquisas de reputação não tão acentuadas quanto a USP ou Unicamp, mas com a instituição não tendo tanto reconhecimento internacional quanto suas duas irmãs.

A universidade também sofre, quando comparada com as outras duas, no indicador citações normalizadas por docentes. As análises bibliométricas mostram que a Unesp está muito próxima da USP e da Unicamp quando as citações são normalizadas por artigo, mas isso ocorre porque a Unesp tem um enfoque mais regionalmente intensivo disseminado por todos os seus muitos campi. Entretanto, como mostra o benchmark para a América Latina, abaixo, isso não deveria impedir a universidade de avançar no ranking.

Benchmark para a América Latina

UniversidadePosiçãoPontuaçãoCitaçõesAlunos internacionaisDocentes InternacionaisDocentes/discentesReputação do EmpregadorReputação Acadêmica
USP11655,535,23,78,925,273,388,3
Unicamp21442,132,74,39,921,134,567,5
Unesp48224,614,72,25,935,515,531,2
UBA74662,464,750,777,491,387,2
UNAM10358,83,84,313,857,69190,9
PUC-Chile12753,413,64,219,428,695,585,2
Uni-Chile1894514,58,410,116,390,871,6

Diferentemente de quase todos os outros rankings, a USP é a terceira instituição latino-americana na classificação, enquanto a Unicamp é a sétima, e a Unesp, a 19ª.

Apesar disso, todas as três instituições estaduais pontuam significativamente melhor nas citações do que qualquer das outras, com UBA e UNAM pontuando extremamente baixo, em especial, apesar de sua forte posição no ranking geral.

Como já foi relatado extensivamente em outro ponto do texto, a UBA tem uma imensa vantagem natural em relação à internacionalização, devido ao fluxo de estudantes chilenos atraídos para a Argentina, para o ensino gratuito, em seu próprio idioma.

O motivo mais notável para a posição da UBA e da UNAM é a relação docente/discente, que é surpreendentemente muito alta. A razão para isso é que a maioria dos alunos matriculados em ambas as instituições estão em um estágio de licenciatura que não é reconhecido internacionalmente como bacharelado; para a UNAM, 213.004 estão nesse nível, em comparação com 112.588 no bacharelado, e 41.318 funcionários acadêmicos, a maioria dos quais em tempo parcial significando que, embora a maioria dos alunos de graduação não apareça no cálculo, um enorme número de seus professores (que não lecionam no bacharelado) aparecem.

Por outro lado, a UBA emprega cerca de 30.000 funcionários acadêmicos para quase 300.000 alunos, mas como o primeiro ano não é contado no esquema ISCED, eles não são obrigados a relatá-los para o QS, significando que o total é reduzido para aproximadamente 200.000.

Essa é uma outra razão por que as pontuações de citação das duas universidades são tão baixas; o cálculo é que elas ganharam mais pontos ao relatarem mais funcionários do que alunos, porque existem mais pontos a serem ganhos do que são oferecidos por citações. Para ambas as instituições, as turmas não são tão pequenas quanto o ranking sugere, mas a pesquisa também não é de tão baixo impacto.

Benchmark Global

UniversidadePosiçãoPontuaçãoCitaçõesAlunos internacionaisDocentes InternacionaisDocentes/discentesReputação do EmpregadorReputação Acadêmica
USP11655,535,23,78,925,273,388,3
Unicamp21442,132,74,39,921,134,567,5
Unesp48224,614,72,25,935,515,531,2
Seoul National3779,661,611,919,28891,196,9
Zhejiang5472,463,962,995,478,686,567,7
Sungkyunkwan956149,338,121,385,774,658,4
Chulalongkorn24738,38,52,511,525,656,562,4
Sains Malaysia16547,917,74637,574,952,549,6

O benchmark global, entretanto, realmente mostra que os concorrentes da universidade sendo universidades grandes, com pesquisa intensiva, se beneficiam de salas de aula significativamente menores e a resultante carga de trabalho mais leve. A USP está em 577º para a relação docente/discente, a Unicamp está acima de 600º e a Unesp está em 400º, mostrando que todas as universidades estão tendo que participar com um número muito maior de alunos do que seus pares internacionais, com a exceção aqui de Chulalongkorn, que está abaixo da USP e da Unicamp.

O esforço de internacionalização de entrada no plano Double First Class mostra que Zhejiang é mais adepta do recrutamento de acadêmicos estrangeiros, o que é também demonstrado por outras instituições C9, embora as duas instituições coreanas sejam caracterizados por salas de aula pequenas, intensivas, e ligações fortes com empregadores locais, levando suas instituições mais alto no ranking, apesar do baixo prestígio acadêmico (no caso de Sungkyunkwan). Da mesma forma, Sains Malaysia, se beneficia das salas de aula pequenas, e também das relações com os empregadores locais.

Pontos para ação

O indicador reputação do empregador seria o mais fácil de se conseguir ganhos no ranking, especialmente para a Unesp. Ele é ponderado 50:50 entre internacional e doméstico, significando que os votos locais para a universidade têm um peso muito maior do que a reputação no levantamento acadêmico, embora ainda seja importante. No momento, 1,73% do total de respondentes são brasileiros, que é um número similar à Argentina (1,32%), Colômbia (1,51%) e Chile (1,35%). Dado que cinco universidades na Argentina tiveram pontuação para esse indicador (UBA com mais de 90, e o restante com 45 ou menos), na Colômbia, de los Andes, Nacional ambas pontuaram próximo de 90, e Javeriana 70, e no Chile, PUC-Chile teve pontuação 95 e UC 90, enquanto várias outras, inclusive Adolfo Ibanez, tiveram pontuação melhor do que a Unicamp, isso é sugestivo de que as universidades estaduais não estão maximizando o seu potencial para esse indicador. Para referência, a Coreia se beneficia de 2,1% dos respondentes, Malásia 1,43% e Japão 2,44%, dando a suas universidades uma vantagem significativa.

Em parte, isso ocorre porque no Brasil um número similar de respondentes estão escolhendo entre um número muito maior de universidades de elite; no restante da América Latina, não existe mais do que uma ou duas instituições de elite em cada país, significando que quase por padrão a maioria das respostas vai para UBA, UC, PUC-Chile, UNAM e Monterrey. Na Coreia e na Malásia, um pequeno número de respondentes emblemáticos e um grande número de respondentes empregadores ajudam as universidades nesse quesito.

Portanto, os seguintes passos são sugeridos para consideração:

As universidades são incentivadas a enviar para o QS listas de empregadores para inclusão no levantamento. Cada universidade estadual deveria criar uma lista dos empregadores com os quais elas têm a maioria de seus ex-alunos trabalhando, e com os quais eles tenham relacionamentos mais próximos. As universidades estaduais deveriam adotar uma abordagem proativa, para engajar os empregadores e enviar as listas de empregadores brasileiros disponíveis para preencherem levantamento.

Em primeiro lugar, as universidades devem prestar mais atenção a sua imagem pública, tanto online quanto na mídia impressa. O discurso do governo atual não terá ajudado com relação a isso, mas as universidades devem se engajar com os empregadores locais, para que se apresentem como o motor da economia local.

Em segundo lugar, devem aumentar o número de empregadores brasileiros que irão responder ao levantamento, de modo que o Brasil não seja mais estatisticamente sub-representado por causa de sua população, especialmente, por causa do número de universidades de elite que tem. Isso envolve o engajamento em redes de ex-alunos, para persuadir seus empregadores a participarem, ou para eles mesmos terem participação.

Melhorar as pontuações nos levantamentos de reputação também tem o benefício de produzir fortes efeitos de halo; quando a reputação é mostrada externamente, isso produz mais confiança nos empregadores, que por sua vez têm maior probabilidade de expressar opiniões favoráveis no futuro.

Uma descrição da amostra das respostas dos empregadores pode ser encontrada aqui.

Para melhorar sua pontuação em reputação acadêmica, as universidades devem procurar formar laços mais profundos com a Ásia como um todo. Uma presunção comum é que essas respostas concentradas na China, mas QS surpreendentemente teve um pequeno impacto ali (apenas 1% dos respondentes para 2019 eram chineses, em comparação com 4,6% da Malásia, 4% da Coreia do Sul, 4,4% da Rússia e 2% de Taiwan). Portanto, a colaboração com outros países além da China pode trazer uma maior representação neste ranking.

Uma descrição da amostra de acadêmicos pode ser encontrada aqui.