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Análises Conteúdos Monitor de Rankings

THE World University Ranking 2020

Esse artigo analisa os resultados e a performance geral das universidades estaduais paulistas no THE World University Ranking 2020.

Este artigo analisa os resultados e a performance geral das universidades estaduais paulistas no THE World University Ranking 2020.

As principais descobertas dizem respeito ao aumento consistente da performance da USP em citações, um recuo de posições da Unicamp que, embora não tenha perdido pontuação relativa, vem expandindo aquém da expectativa as atividades que pontuam ensino. A Unesp, pelo seu perfil multicampi e vocação regional, já não se beneficia do ranking THE, fortemente normalizado de acordo com o porte das instituições. 

Resultados 2017-19 para USP, UNESP e Unicamp no THE World Universities Ranking

InstituiçãoAnoGrupoPontuaçãoEnsinoPesq.CitaçõesRenda industrialInternacionalização
USP2020251-30046.9–50.056.45440.639.933.9
USP2019251-30046.4–49.455.953.53739.532.7
USP2018251-30045.2–48.252.955.531.538.130.9
USP2017251-30043.5—46.257.260.225.739.628.3
Unicamp2020501-60035.3–38.744.63834.844.830.6
Unicamp2019401-50037.1–41.646.837.533.444.628.6
Unicamp2018401-50035.0–39.943.54031.745.527.1
Unicamp2017401-50032.6—37.544.939.62846.524.1
Unesp2020801-100022.2–28.234.42316.836.925.1
Unesp2019801-100019.0–25.937.119.914.735.425.1
Unesp2018601-80021.5–30.633.721.612.733.122.2
Unesp2017601-80018.6—27.537.519.126.832.122.3

Análise dos resultados

USP

A Universidade de São Paulo se mantém no mesmo grupo desde 2017. A despeito das dificuldades na manutenção do orçamento, o que permitiria esperar uma queda nos indicadores de ensino, em que o peso do indicador de finanças representa 7,5% da pontuação, apresentou melhora, compensando as perdas por meio dos indicadores de reputação internacional, excepcionais no caso da instituição. Os números relativos a citações também melhoraram, refletindo o bom trabalho da USP em integrar redes internacionais de pesquisa. Observou-se uma perda de pontos em relação à pesquisa, muito em decorrência da sensível diminuição nos orçamentos federais destinados a essas atividades ao longo dos últimos anos. Cabe ressaltar, que os resultados dessa edição do THE referem-se às informações dos anos anteriores (2017-18) e, portanto, as consequências das crises pelas quais passam atualmente a Capes e o CNPq só serão capturadas por esse ranking a partir da edição de 2021, quando se espera uma queda perceptível dos indicadores relacionados à pesquisa.

Unicamp

A Unicamp caiu um grupo, figurando na lista entre as posições 601-800, embora essa queda deva acompanhar a informação de que efetivamente perdeu pontuação nos indicadores de ensino. Esse índice de ensino é ponderado pela medida da razão entre docentes e alunos da instituição, e também considera o orçamento total da Universidade para esse cálculo. Desta forma, pode-se explicar a queda levando em consideração a expansão da oferta de vagas e a diminuição do orçamento da Unicamp nesse período.

Apesar de ter caído um grupo, não se observa nenhuma variação negativa nas pontuações em relação aos resultados de 2019. Explica-se essa queda pelo comportamento das instituições com pontuação similares, que melhoraram  o desempenho no ranking em um ritmo mais rápido do que a Unicamp foi capaz de acompanhar.

UNESP

A UNESP, por conta do seu perfil institucional, é menos favorecida pelos critérios do THE World Universities Ranking. Trata-se de uma instituição grande, sendo que sua missão e esforços são dedicados para o impacto local, e seus recursos são alocados de forma diluída entre uma multiplicidade de diferentes áreas. 

Dito isso, cabe ressaltar que a Unesp melhorou significativamente em todas as dimensões desse ranking em 2020, embora não tenha conseguido recuperar a performance em citações obtida no ano de 2018. Outra instituição, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), também teve uma melhora nesse indicador no mesmo ano. É possível inferir que se trata de uma questão de atribuição incorreta das autorias dos trabalhos, ao invés de uma perda real de impacto (ver tabela anexa). Dado que a Unifesp tenha perdido uma grande quantidade de pontos nesse indicador na edição atual, não está claro para onde teriam se destinado essas atribuições, posto que, aparentemente, nem a USP e nem a Unesp tenham se beneficiado de um incremento nas citações. 

Uma investigação na base de informações bibliográficas Scopus revela que embora a Unesp tenha um índice de impacto normalizado por área menor que as instituições vizinhas no ranking, essa diferença não é tão dramática como os resultados sugerem. Esse indicador é de importância crucial que a Unesp tenha um desempenho melhor neste ranking.

O que esse ranking favorece?

A listagem de posições do The Times Higher é normalizada por tamanho – todos os indicadores, com exceção dos baseados em reputação, são calculados e normalizados com base no tamanho das instituições. Essa normalização tem o efeito prático de fazer com que instituições menores sejam beneficiadas. Não há por exemplo, nenhuma instituição maior que a Universidade de São Paulo numa posição superior a ela, e apenas 8 universidades com mais de 60.000 estudantes ocupam posições na mesma classificação da USP ou mais altas, e dessas, apenas uma (Universidade de Toronto) aparece na lista das 100 melhores.

Outro aspecto observado é que instituições extremamente bem financiadas são favorecidas. Universidade britânicas, que tem perdido posições no THE, investem em média USD 494.000 por membro do corpo docente; as instituições alemãs, comparativamente, investem atualmente USD 1,2 milhões por membro do corpo docente, e essa marca é resultado de uma política – excellence initiative – em nível nacional, que aumentou o volume de investimentos em 38% ao longo de um período de cinco anos; a China, por sua vez, aumentou em 57% a dotação de recursos para IES e hoje investe USD 1.47 milhões para cada docente. É claro, portanto, que o sucesso neste ranking está intimamente ligado ao financiamento disponível nacionalmente. Países que desejam fomentar iniciativas semelhantes devem se espelhar em exemplos de sucesso. A Alemanha passou a contar com 23 instituições (anteriormente eram três) entre as 200 mais bem classificadas, enquanto a China passou de 5 para 7 nesta lista, sendo duas delas entre as 30 mais bem colocadas mundialmente.  

Recomendações às universidades paulistas para melhoria de posições no THE

USP

Para ser considerada parte da elite nas ciências da vida, a USP precisa aumentar a contagem média de citações das suas produções. Para tanto, deve estudar as políticas adotadas por instituições com perfis semelhantes, que seguiram esse caminho e obtiveram êxito. Uma pontuação de 55 nesse critério elevaria a posição da USP para o patamar das 150 mais bem classificadas. Dado o avanço nesse indicador ao longo dos últimos anos, é possível prever que esse patamar possa ser alcançado nos próximos cinco anos. O que pode impedir essa melhora de posições é o fato de não conseguir acompanhar o passo de instituições na mesma faixa competitiva, que estejam em países com sistemas de financiamento de ciências mais estáveis.

A análise da metodologia sugere que a performance nesse ranking está diretamente relacionada à intensidade do financiamento, o que dificulta a posição das universidades brasileiras como um todo.

Unicamp

A prioridade para a Unicamp é alcançar os níveis de impacto de citações (aproximadamente 55) do Technion, e das Universidades de Twente e Ruhr Bochum, que são instituições similares, para aumentar expressivamente sua posição nesse ranking. Considerando o avanço lento desse indicador nos últimos três anos, a Unicamp poderia considerar estratégias para empreender pesquisas de fronteira que envolvem maior risco mas também trazem maiores retornos. Sua posição em renda industrial é compatível com uma colocação entre as universidades com destaque em tecnologia, embora ainda possa ser melhorada.

Unesp

O principal obstáculo para a Unesp se posicionar bem no grupo nomeado pelo THE como “Core Competences University” é a sua reputação internacional. Como as reputações em pesquisa e ensino são profundamente ligadas, um incremento nesse quesito traria à Unesp uma considerável melhora na sua classificação. A instabilidade na pontuação de citações leva-nos a deduzir que há um problema a ser resolvido com respeito à correta atribuição do nome da instituição em inglês, o que se observa também na troca não intencional de citações em relação à Unifesp. Na base bibliográfica Scopus, a Unesp apresenta um FNCI  de 0.92, não tão distante do da USP (1,06), e como parâmetro da Universidade Livre de Berlin (1.56). Essas incertezas metodológicas devem ser esclarecidas e resolvidas, antes que se possa inferir conclusões concretas da sua performance nesse ranking.