O The Times Higher Education (THE) Young Universities Ranking utiliza a mesma metodologia e as mesmas ponderações que a publicação global. Trinta por cento da composição das pontuações leva em consideração as citações por artigo, normalizadas por área do conhecimento e ano de publicação (FWCI). Outros 30% dos pontos medem a qualidade do ensino, e consideram para tanto uma composição de indicadores de reputação, tamanho das salas de aula, proporção de pós-graduados e receita institucional.
O mesmo peso é atribuído ao indicador de qualidade da pesquisa, composto pelo resultado de um survey sobre a reputação, produtividade em pesquisa (artigos por docente) e receitas de pesquisa obtidas a partir de fontes competitivas. A internacionalização corresponde a 7,5% da pontuação – 2,5% para cada um dos indicadores de artigos publicados em coautoria internacional, proporção de estudantes estrangeiros e proporção de docentes estrangeiros contratados em regime integral. Os 2,5% restantes consideram a medida da receita proveniente de parcerias não acadêmicas.
O ranking usa a base de informações bibliométricas Scopus e o período considerado para medição tanto de publicações quanto de citações é de quatro anos (2015-2018). Os indicadores financeiros são ajustados para PPP e todas as medidas de tamanho das instituições são informadas como equivalentes a regime de tempo integral (FTE). A lista final é normalizada utilizando z-score, o que significa que os resultados são apresentados em distribuição normalizada de 0-100 e a pontuação de 50 é a média da amostra.
O THE utiliza uma definição de Universidades Jovens (Young Universities) considerando instituições estabelecidas há 50 anos ou menos. São consideradas para efeito de inclusão na lista instituições reformadas ou que tenham passado por processo de fusão. Dessa forma, constam algumas universidades como a Paris- Sorbonne, tecnicamente existente na conformação institucional atual deste 2015, mesmo tendo componentes herdados da Université de Paris que funciona desde 1170.
Ao longo de quatro anos de publicação do ranking, o número de instituições listadas aumentou consideravelmente – a edição 2020 traz 414 universidades, em comparação com 351 e 250 listadas nas edições anteriores. Espera-se, usualmente, que novas instituições incluídas em um ranking apareçam nas posições inferiores da listagem e não no topo e que esse processo de inserção dessas instituições faça com que a média utilizada na ponderação da lista final diminua à medida que a lista aumente e, mesmo que a pontuação de uma universidade se mantenha a mesma, ela não perca posições de uma edição para outra. Isto não é o que se observa no caso do THE Young Universities. Essa forma de ponderação normalizada é apropriada para capturar as características comparáveis das instituições, mas cria certa confusão e demanda uma leitura mais atenta das posições para a correta aplicação dos resultados em uma análise com propósitos institucionais.
Performance da UNESP no THE Young Universities 2020
| Ano | 2020 | 2019 | 2018 | 2017 |
| Posição | 201-250 | 201-250 | 151-200 | 151-200 |
| Pontuação | 28.6–32.7 | 24.9–30.3 | 25.7–32.6 | 21.9-28.4 |
| Citações | 16.8 | 14.7 | 12.7 | 9.2 |
| Renda da indústria | 36.9 | 35.4 | 33.1 | 34.5 |
| Internacionalização | 25.1 | 25.1 | 22.2 | 18.8 |
| Pesquisa | 31.9 | 27.5 | 29.7 | 24.8 |
| Ensino | 43.4 | 47 | 42.3 | 36.5 |
Ao longo dos quatro anos representados na tabela acima, a UNESP caiu um grupo, mesmo que tenha conseguido manter ou melhorar na pontuação de todos os indicadores. O indicador de citações melhorou, mas é possível observar uma tendência de estabilidade ao longo do período.
O maiores avanços da UNESP foram nas medidas de pesquisa e ensino, que são dependentes de resultados na relação de professores por alunos, e dois fatores relacionados a desempenho financeiro: orçamento principal para ensino e recursos financeiros para realização pesquisa obtida a partir de fontes competitivas – há de se registrar que foram dois aspectos com os quais as universidades brasileiras tiveram que lidar ao longo dos últimos três anos. A pressão constante por ampliação do número de vagas e a falta de capacidade para contratação de pessoal, colocam as instituições brasileiras em desvantagem nessas dimensões, por circunstâncias conjunturais. Por eliminação podemos, portanto, considerar que esses ganhos devem-se a melhoria nos indicadores de reputação e visibilidade.
Quadro comparativo de universidades semelhantes à UNESP
| Universidade | Posição | Pontuação | Citações | Renda industrial | Internacionalização | Pesquisa | Ensino |
| Unesp | 201-250 | 28.6–32.7 | 16.8 | 36.9 | 25.1 | 31.9 | 43.4 |
| Deakin | 55 | 50.1 | 73.5 | 40.6 | 85.2 | 40.7 | 28 |
| Kwa-Zulu Natal | 71 | 48.3 | 70.1 | 36.8 | 55 | 41.4 | 32.7 |
| Shenzhen | 101-150 | 38.0–43.7 | 70.4 | 51.4 | 34.9 | 30.3 | 26.6 |
As universidade comparadas nesse quadro possuem aproximadamente o mesmo porte, tempo de existência e equilíbrio entre as áreas de conhecimento. Todas possuem, também, um perfil de liderança regional, e grande engajamento com suas comunidades locais. Suas missões e atuação são orientadas para inclusão social e para ampliação do acesso ao ensino superior. Dessa forma, podemos considerar as universidades desse grupo similares em termos de perfil e de missão institucional. Dentre elas, a UNESP apresenta indicadores superiores de ensino, além de um perfil de pesquisa semelhante, embora figure uma centena de posições abaixo nesse ranking. A maior diferença observada (-30%) refere-se ao impacto de citações. Embora a UNESP publique um volume maior de artigos em relação às outras três universidades e tenha se expandido durante a última década, mesmo apresentando melhora relativa no índice de impacto de citações (FWCI), não avançou rápido o suficiente para ganhar posições nessa lista.
Notável nesse conjunto de resultados é a mudança observada pela Universidade de Shenzhen em 2012, que após implantar a Double Class Initiative, obteve um aumento expressivo do índice de citação (FWCI). As mudanças institucionais e no financiamento produziram efeitos dramáticos na performance dessa instituição ao longo do período observado.
As outras duas universidades também aumentaram progressivamente o impacto de citações, mas não de forma vertiginosa como Shenzhen.
Para aparecer listada entre as 100 primeiras desse ranking, a UNESP precisaria aumentar o FWCI de .88 (atual) para uma marca da ordem de 1.2. E, para alcançar esse objetivo, uma marca a ser buscada seria manter 14% de suas publicações entre as 10% mais citadas.
UFABC
| Ano | 2020 | 2019 | 2018 | 2017 |
| Posição | 301-350 | 251-300 | 151-200 | 151-200 |
| Pontuação | 20.6–24.4 | 19.7–24.8 | 25.7–32.6 | 21.9-28.4 |
| Citações | 24.1 | 26.8 | 29.3 | 33.4 |
| Renda da Indústria | 35.8 | 39.3 | 34.5 | 36.4 |
| Internacionalização | 33.4 | 33.6 | 32.8 | 31.9 |
| Pesquisa | 17.4 | 18.2 | 17.8 | 19.2 |
| Ensino | 20.8 | 19.2 | 38.3 | 19.5 |
À primeira vista esses resultados apresentados na tabela comparativa não parecem muito favoráveis à UFABC. No entanto, uma análise mais cuidadosa revela um quadro um pouco diferente. Esse ranking utiliza muitos recursos para normalização dos indicadores para que as pontuações sejam independentes do tamanho das instituições. Embora pareça que a universidade está gerando menos impacto por meio de suas publicações que nos anos anteriores, ou recebendo menos citações, não é este o caso. A universidade passou por um aumento expressivo no volume de produção e expansão para novas áreas pesquisa, partindo de sua atuação inicialmente focada em ciências duras, especialmente Física. Hoje, apresenta uma base de pesquisa mais abrangente, notadamente em Ciências Sociais e da Vida. Essa diversificação ocasiona inevitavelmente um deslocamento da média de pontuação, considerada na listagem, para baixo, embora o volume de publicações constantes no grupo das 10% mais citadas tenha se mantido estável, e que o número de publicações entre as mais citadas é maior que em 2017. A participação da UFABC nas pesquisas relacionadas com o Bóson de Higgs durante os anos iniciais representados nesta tabela contribuiu consideravelmente para uma representação favorável, considerando os critérios adotados pelo ranking.
Os demais indicadores permaneceram relativamente estáveis, sugerindo que não tenha sido o caso de a UFABC ter caído no ranking, mas por sua vez, ter sido carregada por um grande número de outras instituições de perfil semelhante entrando no ranking.
Quadro comparativo de instituições semelhantes à UFABC
| Universidade | Posição | Pontuação | Citações | Renda industrial | Internacionalização | Pesquisa | Ensino |
| UFABC | 301-350 | 20.6–24.4 | 24.1 | 35.8 | 33.4 | 17.4 | 20.8 |
| Tampere | 34 | 54.1 | 81.8 | 52.6 | 49.3 | 48.6 | 33.3 |
| Qatar | 73 | 47.9 | 64.7 | 49.3 | 99.6 | 40.4 | 25.6 |
| Haifa | 101-150 | 38.0–43.7 | 52.8 | 36.3 | 35.9 | 44.6 | 33.2 |
| Tsukuba | 101-150 | 38.0–43.7 | 34.4 | 44.6 | 44.3 | 46.3 | 50.2 |
As universidades presentes nessa comparação apresentam perfis de porte similares, com foco nas áreas de Física e Engenharias. Tempere e Tsukuba são estabelecidas há mais tempo e, portanto, podem ser consideradas referências para o futuro da UFABC, enquanto a Universidade do Qatar tem aproximadamente o mesmo tempo de existência. Esses foram os fatores considerados para a formação desse quadro.
Entre as instituições compradas, nota-se que a UFABC apresenta uma boa performance em termos de renda industrial, demonstrando sua vocação para competitividade e potencial de inovação. O indicador de citações é o que a traz posições abaixo, nessa comparação específica. Os números gerais de publicações da UFABC, que publicou 1400 artigos na lista de mais citados, acaba penalizado pela exclusão de artigos com mais de 100 autores. Essa é uma prática comum no campo da Física, mas limita a percepção de impacto nesse ranking.
O principal desafio para a UFABC ganhar posições nesse ranking é aprender com a sua experiência de trabalho cooperativo em grandes projetos da área de Física, e aplicar os aprendizados em outras áreas que envolvam menos autores.
Quais melhorias podem ser consideradas para as universidades?
Dificilmente os indicadores de citação serão competitivos, considerando os critérios desse ranking para instituições grandes, com vocação de liderança regional do perfil da UNESP. Nesse sentido, a comparação com uma universidade como a Diego Portales (99ª. posição com pontuação em citações de 95) não é de grande serventia. Enquanto a Diego Portales publicou 3.000 artigos desde 2010, a UNESP publicou 50.000 no mesmo período. Certamente, o que se deve considerar é uma atenção especial na correta atribuição institucional de artigos em serviços com o GRID e ORCID, garantindo que toda a publicação seja contabilizada.
A melhor estratégia institucional a ser adotada, visando a melhoria da performance nesse ranking, é trabalhar no sentido de garantir acesso a fundos competitivos de pesquisa. Além disso, manter a atenção na análise de oportunidades de financiamento de pesquisa e colaboração internacional que sejam adequados ao portifólio de pesquisa da instituição, com objetivo de lançar-se em projetos maiores e mais ambiciosos de abrangência internacional, atrair mais fontes de recursos e reduzir a carga de trabalho administrativo sobre seus docentes. Essa última prática pode ser implantada, tendo como referência práticas comuns nos EUA, Europa e Ásia de delegar a escritórios de apoio à pesquisa. A mudança altera a orientação da universidade de um papel reativo para um mais proativo.
Essas medidas tendem a melhorar a pontuação da universidade nos indicadores de renda de pesquisa e reputação (que impacta diretamente o indicador de performance em pesquisa), como as pontuações de citação, tendo um efeito positivo em metade dos indicadores considerados nesse ranking, como também melhorando as capacidades para a universidade atuar em pesquisa.
Como dito anteriormente, a UFABC não caiu em performance nesse ranking, mas também não melhorou significativamente. Sendo uma instituição muito jovem, a construção de reputação coloca-se como um desafio, pois não se trata de uma medida com critérios objetivos. Ao serem perguntados sobre quais as universidades mais bem reputadas, os pesquisadores tendem a mencionar algumas poucas instituições das quais têm mais conhecimento. Esse efeito de aura privilegia a criação de um ciclo virtuoso para as universidades do topo, que se privilegiam de boas performances observadas no passado e sistematicamente relegam ao esquecimento as instituições que se colocam abaixo nas listagens.
A UFABC, entretanto, tem o benefício de se colocar não apenas como uma instituição nova, mas vocacionada para a inovação. A recomendação aqui é trabalhar na construção dessa reputação inovadora resultante dos seus atributos de ensino e pesquisa interdisciplinares, por meio de estratégias de comunicação coordenadas. Mantidas essas ações estratégicas, a tendência é que com o passar do tempo a aparente disparidade nos indicadores de pesquisa se equalize e as medidas relativas voltem a crescer.
Tal qual a UNESP, a UFABC deve considerar uma abordagem mais estratégica em relação à atração de recursos provenientes de fundos internacionais de pesquisa. Essa busca levaria, consequentemente, a uma sensível melhora em múltiplas dimensões nos indicadores considerados por esse ranking. Um outro efeito dessa abordagem seria ajudar a superar as instabilidades observadas nos esquemas federais de financiamento ao longo do último quadriênio.
Ações específicas
De curto prazo
- Garantir a correta atribuição institucional em artigos publicados.
- Manter o foco na melhora da comunicação internacional e buscando fortalecimento da posição da instituição em parcerias internacionais.
- Implantar uma estratégia de comunicação internacional que garanta a integridade da identidade da instituição como vocacionada para liderança regional.
Médio Prazo
- Buscar ativamente a identificação de oportunidade de acesso a fundos de financiamento competitivos de pesquisa, considerando os pontos fortes do portifólio de pesquisa, e buscando fortalecer conexões e interdependência em parcerias internacionais.
- Desenvolver competências no sentido de estimular os docentes a buscarem projetos ambiciosos, e fornecer apoio institucional na execução dos projetos.